Domingo de feriadão

Miojo sabor carne com tomate. Meu CD do Ok Computer, Radiohead, está arranhado. As músicas volta e meia pulam. Tinha uma época que eu achava que isso só acontecia com vinil.

E a temporada começou quando o homem gordo chegou. Nada de excepcional teria acontecido se não fosse a chegada dele, já que era um daqueles dias que a gente gosta de ficar em casa, lendo revistas velhas e ouvindo uma música pop tão elaborada que dá quase para dizer que é jazz. Ele chegou com seus quase quarenta anos e deitou malas no chão, esperando que alguém as levasse para dentro. Fui lá e peguei algumas, de forma que ele percebeu que além de mim não havia ninguém mais para ajudar e se mexeu. Na hora de fazer a ficha de registro, ele soltou essa:

– Nome?

– Bandini, Arturo Bandini! – assim mesmo, com exclamação no final.

Minha mãe olhou para ele por alguns instantes, e perguntou quanto tempo ele pretendia ficar. \”Uns quatro ou cinco meses\”, respondeu ele. Ao notar que o olhar interrogativo à sua frente ficou mais penetrante completou: \”É que eu sou programador e agora tô desenvolvendo um projeto particular.\” Programador? \”É, analista de sistemas, para ser mais exato.\” Olhei para as malas. De fato havia uma maleta de notebook lá (que não havia sido deixado no chão quando da chegada e que ele mesmo carregou) e pensei que projeto era aquele. Minha mãe continuou conversando mais um pouco, ajeitando detalhes (ele perguntou se pagando adiantado os três primeiros meses de hospedagem tinha desconto – sim – e que precisaria acessar a Internet de vez em quando e se podia fazer isso usando o telefone da pousada – sim novamente – e por aí vai) e quando ele estava indo para o seu quarto minha mãe tirou de debaixo do balcão o Notas de um velho safado que eu sempre deixava ali e disse:

– Senhor Bandini, tudo bem que o senhor esteja tirando umas férias de si mesmo, mas eu não posso botar esse nome na ficha de hóspedes…

Ele ficou vermelho, voltou até o balcão e escreveu o nome dele no livro com a cabeça abaixada, dizendo com um sorriso tímido:

– Geräuschemann. Meu nome é Alberto Geräuschemann. – e ele aproveitou e nessa hora fez o cheque para pagar a hospedagem. Foi aí que a minha mãe percebeu o quanto ela foi, para variar, indelicada.

Geräuschemann… Homem do ruído… É, essa temporada prometia.

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