Ontem assisti ao filme Dançando no Escuro – Dancer in the Dark, vencedor da Palma de Ouro do festival de Cannes ano passado e que neste fim de semana finalmente teve a sua pré-estréia aqui no Rio Grande do Sul. Confesso que na primeira metade do filme eu me segurei para não levantar da cadeira e ir embora, mas fui ficando, tanto para ver até onde é que a história chegava como por ser fã da cantora islandesa Björk (que faz Selma, a anti-heroína do filme). Fiquei e o resultado foi compensador, apesar de ter sido um legítimo estupro emocional. Para quem nunca ouviu falar do filme é o seguinte: durante a década de 50, Selma, imigrante tcheca que vive nos Estados Unidos está perdendo de forma acelerada a visão, devido a uma doença congênita, doença essa que afeta ao seu filho também. Inclusive ela emigrou para os Estados Unidos em busca de cura para ele e trabalha feito uma louca para guardar dinheiro para pagar a operação que evitará que seu filho fique cego. Para suportar a dura vida que leva, ela divaga constantemente, imaginando que está num musical, que é um lugar onde nada de ruim acontece. Inclusive o filme é um musical, mas um musical pobre, com coreografias simplórias nos mesmos moldes dos filmes musicais que Selma via no bloco comunista, quase deprimentes. Aliás, quase não: são deprimentes, já que a medida que a história se desenrola e a saga de horrores pela qual Selma passa vai se desenrolando, menos ela consegue divagar de forma alegre, e isso vai se refletindo na imaginação dela, até chegarmos na canção final ao filho, que como a própria letra diz, dispensa violinos. Nessa hora eu confesso que me derreti em lágrimas (odeio quando isso acontece), assim como boa parte do pessoal que estava no cinema. Aliás, o filme é uma grande manipulação visando tal catarse. Tenho que tirar o chapéu pro diretor Lars Von Triers: ele sabe conduzir uma história e mexer com os seus sentimentos. Não é a toa que há quem esteja odiando esse filme. Eu gostei.
Ah, e quanto a Björk interpretando eu não sou o mais indicado para falar. Como já sou fã dela o meu julgamento é no mínimo suspeito. Mas digamos assim: a Palma de Ouro em Cannes como melhor atriz é plenamente justificável. Aliás, uma coisa comum de ler nas críticas é que esse foi o primeiro filme em que ela participou. Na verdade ela já havia estrelado os filmes The Juniper Tree (produção islandesa em inglês, de 1987) e Glerbrot (outra produção islandesa, também de 87, mas para a TV ) e feito um pequeno ponta no filmes Prêt-à-Porter, de Robert Altman (em 1994). Mas, enfim, a incompetência da crítica brasileira não me surpreende muito…