Sábado de madrugada. Estava conversando com a Taila sobre o tempo, sobre como a vida passa, e lembrei daí do Leandro, do Etamar, do Petzinger, da Marina, todos amigos que um dia cá estavam e no seguinte ficaram apenas na memória. É duro, mas temos que aceitar que envelhecer é colecionar cadávares, cadáveres de pessoas que a gente gosta. Isso é o que há de mais cruel na vida.
E eis que ontem de manhã fiquei sabendo que há mais um item nessa minha indesejada coleção: Henri Günter, colega do segundo grau lá no Dorothea e a única pessoa que conseguia ser pior do que eu nos jogos de futebol das aulas de educação física, com a diferença que enquanto eu ficava encucado com o fato de ser ruim ele não estava nem aí. Ele foi o amigo que não conseguiu segurar a risada quando aconteceu um dos momentos mais vexatórios da minha vida, mas mesmo assim não consegui ficar com raiva dele, só senti o tamanho do ridículo da situação. O amigo que tive inveja numa noite em que, ao se preparar para ir na Disney fazer um estágio na cozinha de lá, ganhou uma “fila para beijar o Henri”. O amigo que cozinhava maravilhosamente bem e que tinha um restaurante que eu, tolo idiota, sempre posterguei de ir lá por achar que era logo ali, em Porto Alegre, qualquer hora vou lá. O Henri que era membro do grupo Theatrum do Tambo, o que é um sinal do talento interpretativo que tinha nele. O Henri, de pequenos sarcasmos e espetadas feitos com um olhar de deboche que não irritava mas que servia para fazer a gente rir, sempre.
Pois é, o Henri, que eu não sabia mas que tinha câncer de pele, que lutou contra a doença, que viu ela sumir e que viu ela voltar com tudo, de forma devastadora. Que na madrugada de sábado para domingo, mais ou menos no mesmo horário em que eu falava para a minha amada sobre as dores de perder amigos, resolveu ir.
Descansa em paz meu amigo. Já sentia saudades tuas antes, agora elas estão mais fortes do que nunca.