Tem horas que eu gostaria que se fizesse uma espécie de limpeza cultural, que se fizesse um levantamento de tudo que foi criado antes da invenção do microscópio e da descoberta dos micróbios e se passasse o rodo… Afinal foi por conta da ignorância de que a maior parte das doenças se devem à existência das bactérias e de vírus, do desconhecimento de que a reprodução se dá pela união do óvulo com o espermatozóide e da ignorância de que a consciência se dá através de uma rede de neurônios que se formou durante milênios toda uma cadeia de suposições, teorias e explicações absurdas que chegaram a envolver astros e seres com poderes divinos, tudo com o propósito de se entender porque nascemos, sofremos e morremos. Que se passe um pente fino, que se tire tudo que é baseado em suposições, se mantendo os questionamentos que ainda não foram respondidos pela razão.
Afinal não há sentido para se ver, ainda hoje, tanta perda de tempo com a discussão de bobagens como influência das estrelas e se algo foi ou não milagre.
E, aliás, o que é um milagre? É nada mais nada menos algo que não se consegue explicar. É algo que foge da normalidade e que faltam dados para explicar o que aconteceu de fato. Um exemplo é o caso da paulistana Sandra Grossi de Almeida, cujo nascimento do filho é um dos milagres atribuídos ao Frei Galvão. Durante uma gravidez de altíssimo risco Sandra tomou as tais pílulas do Frei Galvão e a criança nasceu sem problemas, assim como a mãe passou bem. E aí? Segundo a obstetra dela “tinha alguma coisa a mais protegendo essa moça que a medicina não explicaâ€. Aí que está: a medicina não explica porque deu tudo certo, contudo é só ler como a gravidez dela foi assistida e ver que se tomou todos os cuidados possíveis para que a gravidez não fosse interrompida. E aí? Bem, deixo a resposta nesse post do Leonardo Boiko, onde ele lembra que antes da intervenção sobrenatural existe o esforço de gente que faz o que pode e que procura aprender cada vez mais, para que essa “alguma coisa a mais” seja extendida a outras pessoas. Se um médico atribui uma cura a um milagre (seja esse milagre de Frei Galvão, da Virgem Maria, de Deus, do Espírito Santo, de Ala, de Shiva, enfim) ele simplesmente está tirando de pessoas com casos semelhantes a possibilidade de cura, já que coloca a variável fé na equação. Olhando por esse ângulo não é a tôa que o Janer Cristaldo não gosta de médicos católicos. É de se observar se, depois da passagem do Papa por Aparecida não se veja uma epidêmia de dengue se alastrando pelo país, as pessoas vão dizer que isso não ocorreu graças a um milagre ou se foi graças ao esforço da força-tarefa para combater focos da dengue que está sendo feito na cidade. Milagre vai ser se as pessoas derem o devido crédito…