Quando se fala em Internet no futuro geralmente se coloca que ela vai ser tão normal quanto luz elétrica e água encanada. É comum ver especalistas colocando que acesso será disponibilizado para todos, mediante uma taxa mensal mínima, da mesma forma que o telefone. É o que já acontece no Japão, onde se paga por uma conexão de 1 Mb menos de 1 dólar por mês. Já outros cantam que nem isso vai acontecer, que com as redes wi-fi todos terão acesso gratuíto, como é o caso de San Francisco graças ao Google e o de Sud Menucci graças à prefeitura local.
Assim sendo, baseado nesses exemplos, surgiu aqui na região onde eu moro uma iniciativa que visa levar Internet a baixo custo (pagando apenas 130 reais por um access point) para quem quiser fazer parte da rede usando redes mesh. Para isso o pessoal que está organizando o projeto espera contar com o apoio de prefeituras e de empresas da iniciativa privada. Para quem quiser maiores detalhes dê uma olhada no Baguete uma pequena matéria sobre o assunto.
Pois bem, quem leu o link acima do Baguete viu a esperada a reação da InternetSul. Porque esperada? Ora, porque a InternetSul antes de mais nada é um associação de empresas provedoras de acesso aqui do RS, empresas essas que só se mantém graças à obrigatoriedade legal de se fazer uso de um provedor de acesso, já que o Sérgio Motta lá em 1995 olhava com desconfiança as empresas telefônicas como provedoras. Assim nada mais natural do que esses pequenos provedores terem medo de iniciativas que visam levar a Internet a baixíssimo custo para o maior número de pessoas. Lembro bem quando eu trabalhava na TCA, lá em 1996, e apareceu o primeiro provedor gratuito: foi o pânico puro e simples, e em cima desse pânico que a InternetSul foi formado. É um lobby procurando manter um nicho de mercado, nicho de mercado que foi criado dentro de uma visão que se mostrava válida a 10 anos atrás, mas que hoje não condiz com a realidade. O triste é que esse lobby ainda bate nessa tecla, como se pode ver nessa notícia do começo do mês que está nos arquivos do Baguete:
Participaram do evento (…) o diretor da SIM Telecomunicação e vice-presidente da InternetSul, Adalberto Schiehll (…). Incisivo, Adalberto Schiehll disse que o acesso gratuito da internet causa a criminalidade, pela inversão dos valores éticos e morais. Para ele, a internet com acesso gratuito equivale a TV a cabo pirata.
Sim, pois é. Na visão da InternetSul iniciativas como a da cidade de Sud Menucci é pirataria, assim como a iniciativa da Procempa de disponibilizar acesso gratuíto via wi-fi em pontos de Porto Alegre. Ainda bem que essa associação mais late do que morde, tanto que aí estão os provedores de acesso gratuítos a disposição de quem quiser.
De qualquer forma se prepare para ver dentro de algum tempo artigos condenando redes mesh, dizendo que elas são redes piratas e fazendo pressão para mudanças na legislação. O que me dá pena é ver como gastam esforços criticando iniciativas dessas em vez de oferecer soluções a baixo custo que sejam acessíveis para todos.
Ou você não prefere ter um contrato assegurando acesso à rede o tempo todo?