Globo Online – OAB: Wilson Simonal não era ‘dedo-duro’
BRASÃLIA – Processo na Ordem dos Advogados do Brasil instaurado em 2002 concluiu que eram descabidas as suspeitas de que o cantor Wilson Simonal, já falecido, era colaborador do regime militar. Segundo nota divulgada neste sábado pela OAB, levantamento nos arquivos do extinto SNI atestaram que Simonal não era “dedo-duro”, como o cantor chegou a ser acusado.
A Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) da Ordem dos Advogados do Brasil examinou documentos do antigo SNI, da Polícia Federal, recolheu depoimentos de pessoas que conviveram com Simonal e analisou material jornalístico do começo dos anos 70. Em 1972, Wilson Simonal foi acusado de participação em um seqüestro e de ter delatado aos órgãos repressores do governo militar uma série de pessoas ligadas ao meio musical. O cantor sempre negou ser um colaboracionista. Simonal completaria neste domingo 67 anos de idade.
– A Comissão não é um tribunal para decidir sobre a questão formulada, mas proferiu sua conclusão baseada na força moral da OAB, entidade à qual se vincula – explicou o então conselheiro federal Rogério Portanova (SC).
Tenho aqui em casa alguns discos da coleção Nova História da Música Popular Brasileira, que foi editada pela Abril lá em 1978. E um dos melhores volumes é o Baden Powell e a Bossa Nova, onde tem uma gravação de Sá Marina, com o Wilson Simonal. No respectivo volume não se falava nada sobre o cantor, apenas sobre os autores da música. E era estranho isso, porque só por essa amostrinha se percebia que o Wilson Simonal era um baita de um cantor. E quem dizia que se ouvia falar o que quer que fosse sobre o cara? Nada, não se falava nada. Só fui entender o que acontecia quando ouvi falar que o Simoninha estava empenhado em limpar a mancha de delator que foi impugnado a seu pai.
Pois é, eis que provado está que o cara não era delator coisa nenhuma. E é interessante ver que o Brasil conseguiu apagar de sua memória um cantor que fez um sucesso enorme, num processo de macartismo às avessas. Peraí? Afinal quem mandava? Era a direita ou a esquerda? Pois é, em certos pontos parece que a história do país era mandada pela esquerda, já que o cara simplesmente entrou em ostracismo, o que é no mínimo estranho para alguém que teoricamente colaborava com o governo que mandava na ocasião. Talvez essa história ajude a entender como funciona o mecanismo de tapinhas nas costas que impera no Brasil, principalmente dentro dos jornais e dos centros culturais, onde o que importa é a rede de amizades.
Update: pois fiquei sabendo pelo Radinho que há um outro caso mais ou menos parecido, que é o caso do jornalista Celso Lungaretti, que teria entregado, sob tortura, Carlos Lamarca. Bem, eu fico me perguntando como é que alguém pode condenar o fato de alguém abrir a boca durante uma sessão de tortura… O Lungaretti, para se livrar da condenação moral que o persegue, escreveu inclusive um livro, o Náufrago da Utopia. Vou ver se acho ele por aí.