Há questão de uns 2, 3 anos atrás eu dei uma entrevista para um jornal editado por estudantes de jornalismo onde apareceu um quadro de links sugeridos por mim. O detalhe é que eu nunca tinha sugerido tais links. Não que houvesse algum problema nos links, mas o caso é que eu não sugeri eles e lá estava “Links sugeridos pelo Charles”. Eu me senti agredido com essa história, afinal era o meu nome que estava ali. E obviamente que isso fez com que eu ficasse com o pé atrás para dar entrevistas para matéria sobre blogs.
Bem, semana passada o Instituto Humanitas Unisinos me procurou para saber se eu estava a fim de dar uma pequena entrevista sobre blogs, já que eles estavam fazendo um especial sobre o assunto. Fiquei naquelas, mas a jornalista me tranqüilizou e confesso que ao ler a matéria gostei do resultado. E justamente para complementar o que está publicado aqui vai uma cópia do email que eu enviei:
– O motivo de ter criado o blog e há quanto tempo o possui?
O meu blog, o Charles? Que Charles?, era no início uma página pessoal. Eu criei ela lá em 1996, e ela além de ter uma apresentação sobre mim tinha algumas seções como música, cinema, informática… Era um site sem maiores pretensões, atualizado lá de vez em quando. Contudo, como todo site onde a atualização é feita sem uma ferramenta de gerenciamento de conteúdo, era meio chato fazer novas páginas ali. Assim, lá no segundo semestre de 2000 eu comecei a acessar páginas que tinham uma aparência estranha, onde haviam notas organizadas de forma cronologicamente inversa, de forma que o que era mais atual ficava sempre por primeiro. Nem tinha noção de que tais páginas se chamavam weblogs mas já me interessei pelo formato, que parecia bastante bom para o tipo de página pessoal informal que eu queria, além de ser bastante prático. E assim, em janeiro de 2001, transformei o Charles? Que Charles? em um blog e venho mantendo ele assim desde então, com uma atualização ali, outra acolá, nada com grandes compromissos.
– Como define o seu blog, qual o estilo, o que ele oferece?
Posso definir meu blog como uma completa e total perda de tempo que me faz um bem desgraçado. Geralmente eu falo de música nele, de bandas que fiquei conhecendo, de shows que vão ter por aqui no vale ou em Porto Alegre, de filmes que vi, de um programa que ouvi falar, de algum link bizarro que apareceu no meu correio eletrônico ou sobre mim. De todos os posts que eu coloco no ar os que eu acho mais sem graça são justamente esses, de caráter pessoal, contudo procuro sempre botar alguma coisa, para daqui, dentro de alguns anos, ler e lembrar eu era assim, eu vivi isso, como eu era idiota, eu já fui mais esperto, essas coisas. Os que eu mais gosto são os sobre música mesmo.
– Que tipo de comentários as pessoas que acessam o blog fazem?
Tudo que é tipo imaginável de comentário. Os meus preferidos são aqueles que acrescentam informações sobre algo que eu comentei, esclarecendo dúvidas que eu tenho e que outras pessoas mostraram na área dos comentários. O post se torna assim um diálogo, não se tem aquela relação passiva que se observa num site de notícia onde tu não pode se manifestar sobre a opinião do colunista e corrigir eventuais falhas do que ali foi comentado. Os que mais me chateiam são aqueles comentários onde se vê que a pessoa quer só divulgar seu blog, tipo Gostei do seu blog, visite o meu. É realmente triste ver que tem pessoas que necessitam de audiência a tal ponto para ficar mendigando por isso. Mas enfim, o caso é que comentários geralmente são interessantes (excetuando, é claro, os que são mera propaganda), até pelo fato de que mostra que a pessoa que leu se sentiu de alguma forma tocada. Ninguém comenta sobre algo que não desperta seu interesse. Aliás, deve ser justamente pela falta de coisas realmente interessantes que meu blog tem poucos comentários 😉
Fale sobre a tua experiência, o que te faz manter o blog, porque é gratificante, qual o grau de satisfação, qual é a expectativa diária de abrir, ler os comentários e postar novamente:
Mantenho o blog por que é divertido, simples assim. Ele serve como memória, como agenda, como bookmark, de forma que volta e meia acaba se revelando bastante útil. E escrever é algo agradável, mesmo que seja escrever sobre alguma coisa totalmente nonsense. E sobre expectativas não carrego muitas. Houve uma época que eu ficava super contente de ver meu blog sendo apontado por outro blog, vendo comentários, número de acessos, essas coisas. Hoje não. Já é tanto tempo de blog que já aprendi que o bom mesmo é se divirtir com o ato de escrever e com os eventuais comentários. Aliás, bom é escrever não esperando comentários. Quem escreve esperando comentários pode se decepcionar muito vendo que ninguém achou o texto tão sensacional assim. Sim, eu já passei por isso.
Algum outro comentário que ache importante acrescentar?
Uma coisa muito interessante sobre blogs é que você cria redes de relacionamentos muito interessantes. Como no meu blog falo (ou falava, já que infelizmente ultimamente estou com pouco tempo para ficar escrevendo) bastante sobre música e shows, costumo trocando idéias com outras pessoas que gostam de música e assim eu fico conhecendo mais coisas interessantes ainda. É impressionante a quantidade de música boa que simplesmente não toca nas rádios…
Outros alunos, professores e funcionários da Unisinos também deram depoimentos para o jornal (a Thaís Jardim, o Mário André Pacheco, o Alexandre Eidelwein, a Karla Valesca Lampe, o Juliano Filipe Rigatti, o Moreno Cruz Osório e o Artur Jacobus), assim como foram entrevistados o José Luis Orihuela, a Paula Sibilia, o Marcos Palácios, o Pedro Doria, o Daniel Galera, a Rebecca Blood, o José Javier Dominguez e o James Snell. Ainda foram publicados dois artigos do jornal Libération sobre blogs. Como se pode ver o pessoal do IHU Online realmente se puxou. O resultado, que ficou muito bom (independente de ter um depoimento meu ali), pode ser visto aqui. Boa leitura.
Ah, e aproveitando: Ê Doria, teu starpage ainda tá apontando pro charles.pilger.inf.br. Assim dá para ver que por ali faz muito tempo que tu não lê o meu blog! 😀