Ok, ainda tô com a adrenalina correndo no sangue e tô registrando essa para não esquecer os detalhes…
Estava indo pela Independência, trôpego e faceiro, depois de várias e vários doses de cerveja e de ter deixado alguns amigos na esquina do Factory, rumo ao meu lar doce lar. Vou indo e lá longe já vejo o típico mané da vila. Preciso descrever? Não né. Bem, enfim, olhei e pensei: é fria. O que se faz nessas horas? A pessoa de bom senso muda de lado de calçada, dá meia volta, pára em um local onde tem pessoas, certo? Certo. Só que leve em conta que este caro gorducho aqui não estava totalmente são, já que, como contei antes, havia tomado várias cervejas. Além disso o cara estava perto, muito perto. O que fiz então? Me fiz de louco.
Ok, o que é se fazer de louco? A expressão é geralmente usada para aquele cara que finge que determinada coisa não tem nada a ver com ele. No meu caso é usada para se fazer de louco mesmo, no caso comecei a brincar de não pisar no branco. Quando o cara chegou perto ele estranhou, afinal o jeito que eu caminhava era tudo menos normal. Ele primeiro chegou perto, pedindo uma grana. Eu perguntei: “Qual é o teu nome?”. Ele respondeu “Alexandre.” e eu repliquei “Charles”. Recomecei a andar, atravessando a rua. O cara perguntou se eu tava bem. Respondi: “Tô, tô, o importante é não pisar no branco”, evitando as faixas brancas da faixa de segurança. Ele disse que podia me levar até em casa, por causa dos carros. Eu respondi “Não tem problema, aquele lá tá andando a 30 km por hora, tá lento, o importante é não pisar no branco.” e fui em frente. Na calçada comecei a caminhar mais rápido, só pisando nas listas pretas dela, e sempre repetindo “O importante é não pisar no branco.”, com ele ali me acompanhando. Assim foi até que ele me deu um empurrão leve e soltou “Te toca maluco, isso é um assalto e tô armado” e tirou algo do bolso. Aquilo não pareceu uma arma, mas eu não posso ter certeza já que nessa hora eu ainda tava meio tonto. Foi nessa hora que a tática de se fazer de louco deu certo, já que um cara louco pode fazer qualquer coisa, mesmo a mais absurda. No caso eu lembrei que atrás de mim, do outro lado da calçada, sempre tem um papa-entulho e respondi “Ah é? Quer me assaltar?” e saí correndo. A idéia era me proteger atrás do troço pro caso de rolar um tiro. Era essa a idéia, mas no que cheguei lá vi aquele PUTZA pedaço de madeira.
Sabe pedaço de madeira? Tábua? Aquele grande? De construção? Cheio de prego? Maior do que você? Que pesa pra burro? Pois é, tinha um PUTZA pedaço desses no papa-entulho. Olhei aquilo e nem pensei: peguei a coisa e saí gritando “Quer me assaltar seu f-d-p?” – óbvio que não gritei a abreviatura, mas enfim… – “Então vem me assaltar seu fdp!!!!” e saí correndo atrás dele. Sim, saí, berrando feito um louco, segurando aquele PUTZA pedaço de madeira em cima da cabeça como se fosse uma clave, por quase duas quadras. Não, eu não sei de onde tirei a força necessária para levantar aquele PUTZA pedaço de madeira. Não sei de onde tirei fôlego para correr atrás do cara, já que ele correu horrores. Não sei. Só sei que fiz isso e que quando vi que não ia alcançar o cara de raiva peguei aquele PUTZA pedaço de madeira e bati ele com força contra o chão. Ah, claro, fiquei com raiva também do cara que viu o assaltante correndo e eu atrás e nem se mexeu para ajudar, mas eu entendo perfeitamente: afinal ele tava só protegendo o dele. Mas o caso é que na hora fiquei com muita raiva, muita raiva, e o resultado foi que quebrou o pedaço de madeira em dois, sendo um pedaço quase do meu tamanho, um pouco mais largo que meu braço. Espumando de raiva levei os dois pedaços até o papa-entulho, joguei o maior lá dentro e completamente desvairado saí bufando pela Independência com o pedaço menor (que era quase da minha altura) como se fosse um tacape no ombro. Tenho pena dos ripongas que ficam vendendo bijouteria e que me viram chegando. Um já saiu gritando “Não fui eu!” e outro, que me conhece a um bom tempo, largou um “Calma cara, o que é isso?”. E eu: “Um fdp tentou me roubar!”. Ele: “Ele te roubou?”. Eu: “Não, tentou, mas não conseguiu.”. Ele: “Ah, se não levou nada então tá bom…”. O riponga que se assustou nessa hora já tava mais calmo e largou um “Meu, larga esse pedaço de pau, antes que a polícia te veja e fique ruim prá ti.”. Não dei ouvidos e saí ainda bufando de raiva e carregando aquele pedaço de madeira no ombro até que passei na frente do Ateliê Zumbi e um carro de uma empresa de vigilância me viu. Foi ver os caras e me tocar que realmente eu podia me meter numa fria e deixei o pedaço de madeira de lado. Nessa hora liguei pros meus amigos que eu tinha deixado no Factory, não sei porque, só sei que precisava contar essa grande burrice que eu fiz para alguém.
Sim, grande burrice. Vai que o cara estivesse mesmo com um revólver? Pois é, se estivesse possivelmente eu não estaria escrevendo isso agora. Podia estar estrebuchado no chão com uma bala no corpo, sem vida, e tudo por causa de uns trocados. Só que não aconteceu isso, felizmente, e dessa vez me safei. Sim, bêbado é fogo, faz as coisas mais absurdas, coisas tão absurdas que é de se acreditar naquele ditado que criança e bebum sempre tem um anjo da guarda por perto. Tenho pena do meu anjo da guarda: ele quase deve ter tido um infarte quando viu a loucura que eu estava fazendo. Mas, enfim, assim foi e cá estou. Ainda estou.