Estava passando pela frente de uma banda de revistas quando vejo a revista Aplauso número 61. Na capa, a Cachorro Grande com a chamada Histórias do Underground – Uma aventura para lá de divertida pelos porões e garagens do rock gaúcho. Apesar de todo o asco que eu tenho pela Cachorro comprei a revista e fui dar uma olhada na matéria.
Olha, horas e horas de humor garantidas. Total e completo show de desinformação a matéria. Se eu, que acompanho o tal do \”underground gaúcho\” muito pelas beiradas já vi uma série enorme de bobagens ali, imaginem quem está no meio da coisa… Começa pelas classificação das \”tribos\” que tem na cidade. Vamos a elas (depois dos dois pontos segue a lista de \”bandas representativas\” citadas pela revista):
- Indies: Wonkavision, Superguidis, Superphones
- Neomods: Cachorro Grande, Os Efervescentes, Hipnóticos
- Metaleiros: Hollyfire, Scelerata, Hangar, Burning in Hell
- Punks: Pupilas Dilatadas, Roten Tix, Los Vatos e Replicantes
- Emos: Fresno, Lyse, Aster
- Fiéis do Underground: Space Rave, Walverdes, Os Massa, Minimaus e outros grupos que não chegaram a ser citados para a reportagem de APLAUSO de tão herméticos
A relação que eu mais ri foi a das bandas do \”fiéis do underground\” (aliás, belo título para um time de futebol, não?). Para começar, é dificil imaginar qualquer elo de ligação entre o som feito pela Space Rave e Os Massa. Segundo,
a Minimaus acabou em 2003. Terceiro: \”outros grupos que não chegaram a ser citados para a reportagem de APLAUSO de tão herméticos\” é o maior atestado de falta de incompetência para pesquisar que eu já vi… Esse tal de Alexandre de Santi resolveu criar um balaio de gatos e deu nisso aí. Será que entre essas bandas \”herméticas\” estão a Laranja Freak, a Deus e o Diabo e a Pública, bandas que batalham no underground mas que não encaixam em nenhuma das tribos anteriores?
E cadê a Pata de Elefante? Será que por acaso ela é neomod pelo fato de dois integrantes terem morado na \”Casa dos Artistas\” (ou FunHouse, se preferirem)? E como podem citar Efervescentes (aliás, outra banda que não existe mais) e Superguidis e não falarem dos Stratopumas? E cadê Os Alcalóides? E cadê a BabyDool e a Savannah? Essas duas não justificariam uma tribo glitter-trash? E cadê a Porks Cullets? A Thös-Grol? Tem muita coisa rolando em Porto Alegre para ser resumida nessa matéria aí.
É por essas que eu raramente compro a revista Aplauso. Na parte de teatro ela pode até ser boa, mas como eu vivo na equação sem tempo/sem dinheiro para conferir os espetáculos indicados prefiro nem me torturar. Porém, no que se refere à música o que eu posso perceber é que ela na maior parte das vezes é voltada para um público que é de classe média que recém saiu da universidade, que pensa \”oh, não acompanho mais o que está acontecendo na cidade porque estou ocupado arranjando meu lugar ao sol mas estou bem informado porque leio a Aplauso!\”. É daí que matérias como essas vêm a luz do sol…
Update: conversando com um amigo pelo MSN (que sei lá porque prefere não ser identificado) ele resumiu perfeitamente essa matéria aí com a observação \”O pior é o Plato Dvorak, que começou esta história de underground, ser esquecido, assim como Jupiter Maçã (que nunca foi no Jô Soares, ao contrário da Cachorro) bem como o Frank Jorge\”. Pois é… Underground? Que underground?