Saiu uma entrevista muito interessante no site do CIPSGA com o Joel Spolsky, e infelizmente por um detalhe ela não está aparecendo de forma completa pro pessoal. Um detalhe bobo. Assim sendo, fiz o copy & paste do código html da entrevista arrumando o problema:
Pra quem não conhece, Joel Spolsky é um programador experiente, dono do blog Joel on Software, um dos melhores (senão o melhor) blog sobre gerenciamento e desenvolvimento de software. Joel já trabalhou na Microsoft e tem hoje uma empresa de software, chamada Fog Creek Software, que faz dois produtos: FogBUGZ – um sistema de gerenciamento de bugs e o CityDesk – um CMS que roda no cliente e exporta os arquivos HTML para o servidor. Já escreveu dois livros, um sobre design de interfaces com usuário e outro com os textos publicados em seu blog. Ao contrário do que se pode pensar, a entrevista não é sobre desenvolvimento de software e sim sobre informática em geral e, é claro, software livre. Esta é uma tradução. Se preferir, leia a entrevista original, em inglês.
Bruno Torres – Um dos assuntos mais discutidos no último mês foi o lançamento do Windows XP Service Pack 2. Você o instalou? O que achou?
Joel Spolsky – O maior problema que a maioria das pessoas está tendo com seus computadores este ano são os spywares e adwares. Alguns desses programas se tornaram muito maliciosos, deixando seu computador lento, até parar, disparando centenas de janelas pop-up e interceptando informações em seu browser. Um programa que infectou um computador aqui no escritório fingia ser um programa anti-spyware; ele simulava diversos ataques de todo tipo de software malicioso e então quando você tentava ir a websites de companhias que fazem programas anti-spyware, ele direcionava seu browser para o site deles, onde tentavam te vender seu próprio programa para remover seus próprios spywares! Antigamente tinha um nome para isso: extorsão. E um nome para as pessoas que a praticavam: Máfia.
De qualquer maneira, a boa notícia é que o Windows XP SP2 tem muitos aperfeiçoamentes que vão ajudar a proteger os usuários destes problemas.
A outra coisa que todo mundo deveria fazer AGORA MESMO, digo, mesmo antes de terminar de ler esta entrevista, é instalar o Firefox e se livrar de todos os ícones do IE, para evitar que volte a usá-lo. Você estará muito mais seguro. Depois faça isso para todos os seus amigos e parentes que clicam \”OK\” em todos pop-ups activeX estúpidos e fazem você perder horas removendo virus de seus computadores.
BT – Você fala frequentemente sobre a \”antiga Microsoft – a Microsoft de Raymond Chen\”. Quais são as principais diferenças entre a velha e a nova Microsoft?
JS – A velha Microsoft era dirigida por engenheiros: O tipo de pessoa que quer fazer as coisas funcionar, funcionar bem, e funcionar por um longo tempo. A nova Microsoft é dirigida por cientistas da computação: o tipo de pessoa que quer inventar coisas novas sem parar apenas pelo fato de estar inventando coisas novas, mesmo que elas não sejam muito melhores que as antigas. Como um desenvolvedor de software, usando ferramentas da Microsoft, tenho visto lançamentos de mais e mais grandes novas funções e produtos e maneiras completamente novas de programar.
Há apenas três anos eles apresentaram o Windows Forms, uma maneira completamente nova de programar interfaces de usuário no Windows, e já anunciaram que ele não vai continuar a ser desenvolvido – o futuro é algo chamado Avalon que é completamente diferente do Windows Forms. Mudando a estratégia tão frequentemente, eles tornam impossível pra qualquer um desenvolver para sua plataforma sem jogar fora seu código e começar de novo em poucos anos. Esta é uma das razões pelas quais ninguém que mais quer escrever programas pra Windows.
BT – Você já usou Linux alguma vez? O que acha dele?
JS – Sim, claro. Usamos o tempo todo e nosso principal produto – FogBUGZ – roda em Linux. Hoje, para uso em desktops, o Linux ainda não está preparado. Em servidores, ele é muito mais difícil de rodar que o Windows 2000 ou Windows Server 2003. Coisas como configurar impressoras, que são automáticas no windows são extremamente complicadas no Linux. Mas se você for rodar centenas ou milhares de servidores, você vai economizar tanto dinheiro usando Linux, que vale a pena todo o tempo que você leva para aprender como usá-lo.
BT – A Microsoft tem grandes planos de adotar DRM (Digital Rights Management) no seu próximo sistema operacional – Longhorn. Qual a sua opinião sober isso?
JS – Eles estão lutando contra a gravidade. Não há uma maneira de você, simultaneamente, me deixar escutar uma música e me proibir de gravá-la. Não importa a tecnologia de DRM criada pela Microsoft, eu posso colocar um microfone na frente da caixa de som, certo?
BT – Qual a sua opinião sobre os movimentos do software Livre e open-source?
JS – Eles tiveram alguns grandes sucessos e alguns grandes fracassos, como qualquer outra coisa. Mas um ponto importante de se lembrar é a economia do código aberto, sobre a qual eu escrevi em meu site.
A maioria dos programadores precisa comer, o que significa que precisam de empregos. Assim, a maior parte do trabalho feito em software, seja código aberto ou fechado, é feito por empregadores que pagam por ele. A diferença é que o open source é financiado por companhias como IBM, que querem fazer o software barato, para que assim possam vender mais hardware e consultoria, enquanto código proprietário é financiado por companhias que querem que o software seja valioso, para que assim possam vender mais software.
Se você tem habilidade em desenvolvimento de software, seu interesse econômico é por tornar o software valioso, porque isso significa maiores salários e mais empregos pra você. Portanto, não se deixe seduzir pelo charme sexy \”Che Guevara\” do software livre. Software é valioso e você tem o direito de se sustentar criando software.
BT – Você é um incentivador do uso do Firefox e você diz que a Microsoft não permite atualizações no Internet Explorer porque eles têm medo das aplicações baseadas em Web. Você realmente acha que esta é a principal razão para a falta de atualizações no IE? Será que algum dia as aplicações web vão realmente eliminar a necessidade do uso do windows (ou qualquer outro sistema operacional específico)?
JS – Não acho que há qualquer dúvida de que o maior medo da Microsoft neste momento é que o monopólio do Windows seja perdido se as pessoas puderem usar qualquer sistema operacional que queiram.
Neste momento, a única coisa que está proibindo as pessoas de fazerem isso é que muitos programas, especialmente programas de \”criação de conteúdo\” (edição de imagens, processamento de texto, editoração eletrônica) simplesmente não podem ser feitos pela web. Mas isso é uma limitação do HTML 4.0, e não há razão pra não podermos ter um HTML 5.0 ou HTML 6.0 que inclua funções excitantes que tornem possível a criação de programas de criação de conteúdo.
Aqui está um pequeno exemplo: por quê não ter <textarea type=\”html\”> que deixe o usuário digitar texto formatado com um editor de texto formatado com um editor de texto WISIWYG, verificador ortográfico, e todas essas coisas legais? Isto tornaria programas de webmail e blog muito melhores.
BT – Você acha que o Linux tem alguma chance de ser mais usado que o windows nos desktops? Se não, por quê. O que está faltando ao Linux?
JS – O processo de desenvolvimento colaborativo, mundialmente usado por projetos de software livre definitivamente tem seus pontos fortes, mas projetar bom software não é um deles.
Note que eu disse PROJETAR bom software. Eles são capazes de CRIAR bons sofwares, só não são capazes de PROJETÁ-LOS. Assim, todo grande sucesso do código aberto tem sido cópia do projeto de outro; geralmente um projeto que foi feito por um time pequeno em um local físico onde um grupo de arquitetos de software talentosos podem ter discussões rápidas, com alta largura de banda e whiteboards para projetar novas funções.
As grandes vitórias do código aberto (Linux, GCC/G++, Apache, MySQL) são apenas implementações de algum outro projeto.
Até que o Linux resolva este problema, ele nunca será um sistema operacional para desktops suficientemente competente para usuários típicos de computadores em casa e no escritório.
BT – Você tem algum plano de portar seu software de gerenciamento de conteúdo – CityDesk – para outros sistemas operacionais, como linux e MacOS?
JS – No caso do CityDesk, já que ele é uma aplicação desktop com interface gráfica, o custo para portá-lo excederia a quantidade de dinheiro que faríamos vendendo-o para esses sistemas operacionais.
Linux virtualmente não tem uma porção do mercado de desktops e a porção que ele tem não consiste de pessoas que gostam de pagar por software muito frequentemente. Na maior parte do tempo eles usam linux precisamente para evitar ter que pagar por software.
MacOS tem algo em torno de 2% do mercado; nós venderíamos provavelmente cinco cópias por mês se tivéssemos uma versão para MacOS, e criar esta versão seria extremamente caro porque nos apoiamos em funções do Windows (Jet e MSHTML) que nos poupam bastante tempo na criação da aplicação e que não estão disponíveis no MacOS. Assim, portar o CityDesk custaria provavelmente 300% mais que o custo da versão original para Windows, e tudo isso por um mercado muito pequeno.
Nosso outro produto, FogBUGZ é uma aplicação de servidor e nós já o portamos para Linux e MacOS. Já que ele roda no servidor, o custo para portá-lo foi muito pequeno e há um monte de pessoas usando servidores Linux e Mac que não vêem problema em pagar por software.
BT – Pra você, quais são as três tecnologias mais promissoras no mundo da TI? Fale um pouco sobre elas.
JS – 1. Filtros Bayesianos para remoção de SPAM – Estamos usando no FogBUGZ e é a melhor tecnologia anti-spam do mercado.
2. Skype – O que poderia ser melhor que chamadas telefônicas gratuitas? Mas ele me amedronta um pouco porque é controlado por uma única companhia e usa um protocolo proprietário. E essa companhia é a mesma que infestou metade do mundo com spywares e outros virus enviados junto com o Kazaa. Por isso eu, particularmente, não confio neles.
3. Google! – OK, talvez isto esteja ficando um pouco velho agora, mas eu não consigo me lembrar como nós vivíamos sem ele.
Fonte: www.brunotorres.net