De repente, por uma bobagem, percebo por que eu não vejo tantos jornalistas com blogs como seria de se esperar. Na verdade nas listas sobre jornalismo online costumo ver um forte preconceito contra o blog por parte de muitos jornalistas. É uma atitude que sempre me chamou a atenção, e hoje eu tive um leve sentimento do porque isso acontece.
É a falta de editor.
Sim, a falta de um editor, para chegar e perguntar \”Essa informação procede? Tu tem certeza disso?\”. Tem gente com medo disso, dessa liberdade, justamente porque sabe que é falho. Ou existem jornalistas que não gostam de escrever, que não gostam de fazer uma crônica que de vez em quando? Não sei se são jornalistas pessoas assim… Mas enfim, há jornalistas e jornalistas, e há aqueles que tem blog e enfrentam na cara e na coragem o fato de que a informação que eles estão botando na roda é válida. E é fácil encontrar um chato que fica levando a sério o que lê em blogs.
Eu, por exemplo.
Só para ter uma noção da coisa, estava hoje lendo um post no blog do Carpinejar (um jornalista que é poeta ou um poeta que é jornalista?) onde ele falava sobre um posto que saiu no Blógui do Tião, um repórter da TVE. Fui lá, olhei, e lá no finzinho da página, no rodapé, tinha esse post:
Sábado, Maio 15, 2004
Está ultrapassada a frase \”o Orkut é o Ossip da Internet\”, atribuida à Jajá. Ontem, o Rodrigo resumiu bem uma anotação que lhe fiz e cunhou uma mais atual: \”o Orkut é a Balonê da Internet\”. É que, como a festa anos 80, o site de relacionamentos começou reunindo publicitários e jornalistas. Agora, é refúgio também de advogados, administradores e dentistas. Eclético que sou, vejo minha friend list em franca ascenção (não, Fabiano, não estou me gabando disto). E fico feliz de reencontrar na rede figuras desaparecidas da minha vida.
Hmmm? Como? \”É que, como a festa anos 80, o site de relacionamentos começou reunindo publicitários e jornalistas\”? De onde o cara tirou isso? Lembro-me perfeitamente de que, quando eu entrei no Orkut, uma das primeiras coisas que eu fiz lá foi ver quem estava no Orkut, e fui de rede de relacionamento em rede relacionamento, entrando em comunidades, e o que acabei encontrando foi um monte de gente envolvido no movimento do software livre. Obviamente que não era só gente envolvida com software livre, mas o caso é que o Orkut tinha o apelido de Nerdster, pois era praticamente um Friendster só com carinhas da informática. Fácil de entender isso, já que a rede começou pelo Orkut Buyukkokten que convidou os amigos programadores dele que por sua vez convidaram outros amigos programadores e que foi indo até convidar alguns programadores brasileiros e por aí vai. Prova disso é o fato de que as comunidades Brasil, Rio Grande do Sul e Porto Alegre eram antros de comedores de bits e cientistas em geral. É só conferir: a comunidade Brasil foi criada por um brasileiro que estuda engenharia química em Stanford, a comunidade Rio Grande do Sul por um programador que trabalha na Conectiva e a comunidade Porto Alegre por um cara que está em várias comunidades sobre software livre. Tudo nerd! Pois bem, foi ler essa de que os jornalistas e publicitários chegaram primeiro e me subiu o sangue à cabeça. Na mesma hora deixei o seguinte comentário no blog do cara:
Engano! O Orkut começou reunindo informatas. Olha lá e você vai ver toda a galera que participa do Fórum Internacional de Software Livre. Alguns estão lá desde dezembro…
Sim, foi um erro dizer informata, mas enfim, o caso é que realmente alguns já estavam lá em dezembro, e só no final de fevereiro, começo de março é que eu fui vendo os tais jornalistas e publicitários entrando na rede.
Bem, tá, e daí? O que tem de ilustrativo nessa história? Bem, tem que, por causa de uma bobagem (uma bobagem nem tão séria quanto a repassada pelo Marcelo Tas num momento de egocentrismo) a partir de agora eu não me sinto mais seguro em confiar em informações repassadas pelo caro senhor Sebastião Ribeiro. Não sei se o cara é um jornalista sério, se ele é um bom ou péssimo profissional, mas o caso é que por conta de uma frasesinha besta, que só um chato de galochas como eu iria prestar atenção, toda a confiança que eu poderia ter nesse nome foi abalada. Não, eu não quero que vocês julguem o cara, ele pode ter escrito aquilo no impulso, pois primeiro viu o círculo de amigos dele lá e depois passou a ver outras pessoas. Não, nada disso. O que eu quero que seja analisado é o seguinte fato: se eu não soubesse que o cara é um jornalista, que é um profissional que tem um compromisso ético com a informação que passa, eu teria prestado atenção no que o cara disse? Se fosse um administrador de empresas dizendo \”o site de relacionamentos começou reunindo empresários\” eu faria o comentário e deixaria prá lá, não ficaria pensando no assunto. Mas não, foi um jornalista que escreveu aquilo…
Foi aí que caiu a ficha. Putz, é muito fácil para um jornalista ter a sua credibilidade abalada se ele mantém um blog. Ok, não é todo mundo que leva um blog a sério, mas o caso é que é simples ter uma mancha (infinitamente pequena, é verdade, mas uma mancha) no seu currículo por causa de uma frase banal. Duvido que o Sebastião parou para pensar no que disse, duvido que ele fez uma pesquisa para ver como se formou a malha de relacionamentos no Orkut (aliás isso é uma coisa que eu tenho curiosidade…), vendo quais foram os primeiros brasileiros a entrar. Duvido. Acredito que ele se baseou na própria rede para fazer essa afirmação, ao olhar o site e dizer \”Bah, fulano tá aqui! E sicrano também!\”, sem ver que tinha uns nerds perdidos em comunidades como o PSL-RS… Creio que foi isso que aconteceu. Ele olhou ao seu redor e tranqüilamente tascou isso no blog. Acredito que se ele estivesse num jornal ele ia pensar duas vezes antes de escrever algo do gênero. No mínimo ia fazer uma pesquisa para ver se a percepção dele procedia e se ele não fizesse o editor ia olhar aquilo e das duas uma: ou ele questionava ou ele recebia as críticas depois, já que o jornal estava publicando uma informação que não era verídica.
Assim sendo, é fácil para mim como profissional da informática escrever um blog (pelo menos um blog não técnico como esse), assim como é fácil para uma pessoa que esteja escrevendo algo informal. Já para um jornalista não é algo tão simples assim, já que informação (a a credibilidade que cerca essa informação) é o seu ganha pão. Daí que eu passei a admirar um pouco mais pessoas como o Bicarato, ou o Nasi, jornalistas que tem blogs e são editores de si mesmo. É preciso sempre ficar atento para não jogar fora toda uma reputação…