Pois bem, eis que a banda Marillion resolveu fazer o seguinte: fez junto aos fãs mais doentes uma pré-venda do seu novo disco e com a grana juntada pagou toda a estrutura de divulgação que normalmente uma gravadora faz. É, aquela mesmo, de relações públicas, jabás, etc, etc… Com isso, pela primeira vez em 17 anos de estrada, a banda conseguiu atingir o Top 10 das paradas britânicas. Se interessou pela história? Ok, tem mais detalhes no blog do China, que lá está melhor contada, até porque, ao contrário dele, eu não sou apreciador do Marillion.
Mas o que me chama a atenção nessa história é o seguinte: afinal de contas qual é a função de uma gravadora? Sempre tive na cabeça que era descobrir artistas, ajudar com os custos de produção do trabalho desses artistas (isso quando não bancava totalmente esses custos) e distribuir o trabalho. Simples assim. Mas a cada dia que passa vemos mais e mais artistas assumindo esse papel. Óbviamente que o barateamento das tecnologias de produção e a descentralização dos meios de comunicação no que diz respeito à Internet (no rádio e na televisão há a cada dia uma centralização maior) permitem isso, de forma que uma banda que tem estrada pode fazer o que Marillion fez.
Ok, a banda ainda é da época da divulgação via MTV, que é fortíssima, mas a própria MTV está como seu futuro ameaçado. Maior prova disso é que ela cada vez mais é uma TV de cultura pop, e não mais um canal musical. O futuro na minha opinião passa pelos arquivos MP3s armazenados em servidores públicos com WebJays divulgando o trabalho deles. Um exemplo? Tem um tal de pilgerowski (auto-marketing é uma beleza!) que está há semanas com uma lista de bandas brasileiras que é um dos set-lists mais ouvidos… Mas, enfim, retomando: o Marillion tem um fã-clube montado da época da MTV, e isso com certeza contou muito. Mas o que vemos hoje é a desfragmentação, onde há múltiplos canais para quem gosta de música (quem não gosta ouve rádio e MTV e fica alienado). E dentro desse esquema pode aparecer uma banda que pode um dia ter o fã-clube que o Marillion tem. E tendo fã-clube pode-se arrecadar essa grana para invadir os espaços de divulgação de maior penetração e ampliar ainda mais o número de admiradores do trabalho.
Assim sendo, que futuro há para as gravadoras? Afinal se os artistas detêm os meios de se produzirem e agora o poder de divulgação, o que sobra? Vai sobrar para elas levantar alguns artistas, tirar o que podem e ver esses artistas se soltando e indo conquistar espaço por conta própria? Pois pelo que se percebe na forma que as grandes gravadoras trabalham, sim. Assim sendo o que restam para as gravadoras? Simples: praticidade. Venhamos e convenhamos, o que estamos vendo é que os artistas tem que bancar o \”do it yourself\” de uma forma que logo logo não vai sobrar tempo para eles fazerem o principal, que é criar. É para isso que as gravadoras estão caminhando: burreau de serviços para artistas que tem potencial para dar certo, indicando os melhores caminhos seja para produzir o seu trabalho seja para divulgar ele. É isso e talvez a distribuição. Sim, talvez, pois aí também se vê mais e mais alternativas descentralizadas (ainda vou criar uma franquia para venda de CDs dentro de bares onde se fazem shows…).
E enquanto isso tem um monte de gravadora independente que se centrou na mídia CD e não vê que o papel dela está mudando. É tão simples: basta entrar no site da gravadora e ver que não há um MP3 para divulgação. Afinal, qual é a diferença de se pagar jabá prá rádio vincular aquela música e deixar uma pessoa baixar essa mesma música para o HD dela? O produto final não é o CD como um todo? Pois é, e a gravadora independente não tem grana para bancar o jabá… São independentes com mentalidade de gravadora mainstream. A essas gravadoras eu desejo a falência, sinceramente.