Domingo de noite caminhei por Taquara. Não sei direito se foram duas ou três horas, mas percorri a cidade na madrugada abandonada e vazia. Nada de pessoas, nada de lugares para ir, nada. Volta e meia passava junto a uma janela e ouvia o que as pessoas estavam olhando na TV: maior parte o que se ouvia era o baticum do carnaval do Rio de Janeiro, outras vezes um outro canal e teve um que era um filme pornô. Se fosse a 50 anos atrás, quando a religião era mais forte no que rege aos costumes, eu dedicaria o seguinte para o cara dentro do quarto: \”Corra, aproveite o momento, durante quarenta dias você deverá ser abstêmio, carnevale\”. Mas poderia ser um casal que estava na casa, e o que eu ouvi não foi um filme pornô coisa nenhuma… Enfim, o caso é que lá fiquei eu em Taquara, perdido sem rumo, sem nada para fazer, podendo até saber o que os outros estão vendo na TV graças ao silêncio na rua. Tédio num domingo de Carnaval. E é esse tipo de coisa que me desespera na cidade: eu tenho a opção de sair, me mandar para São Leopoldo, uma cidade onde eu posso ligar às 2 da madrugada para um amigo e dizer \”Vamos nos encontrar no Mac e bater um papo\”, enquanto uma galera enorme está presa dentro de suas casas em Taquara sem opção alguma para onde ir. Juro, enquanto eu caminhava eu ficava lembrando de Everyday, do Yo La Tengo, e pensando como essa música era um trilha sonora perfeita para aquele momento. Não tanto pela letra, mas pelo clima arrastado, triste, e belo. Sim, Taquara é bela de noite, com suas estrelas aparentes, porém é deprimente.