Paranóia

Hoje consegui discutir com os meus pais por causa de um motivo estúpido. E o pior é que eu fui um besta também: simplesmente perdi a cabeça com uma situação estúpida, que não tem nada demais. É o seguinte: estava na casa dos meus pais quando o telefone ligou. Era uma vizinha avisando que um motoqueiro tinha estacionado na frente da casa, do lado oposto da rua. Isso foi suficiente para a minha mãe ir saindo desligando as luzes e ir correndo para a janela para ver quem era. Sim, paranóia pura. Como eu conheço essa vizinha e sei que ela é uma fofoqueira de marca maior, daquelas que vê chifre em cavalo, fiquei indignado e sai de casa discutindo com o meu pai e a minha mãe, que o clima de paranóia ali estava tão grande que fazia com que eu, morando em São Leopoldo, que é a cidade mais violenta do estado, me sentisse mais seguro lá do que em Taquara. E quer saber? É verdade. Só que eu não precisava falar isso, eu não tinha que falar isso. E não tinha nada que ter pedido pro motoqueiro esperar a namorada dele em outro lugar, que a vizinhança estava nervosa. O cara, gente fina, foi para outro canto. Sim, eu fiz essas besteiras. Depois, falando no telefone com a minha mãe ela botou para fora todos os medos dela, todos os temores, toda a fragilidade que ela tem sentido. Ela ficou indignada que eu falei com o cara (\”esperando a namorada? e se ele estava esperando a namorada para nos assaltar?\”) e eu ainda tentei argumentar que não dá para viver com tanto medo. Não, não adiantou, e tive que ouvir que se é para que eu me sinta seguro e à vontade que eu não vá mais na casa deles, que Taquara está se tornando uma cidade violenta sim.

E pensar que eu fiz esse escarcéu todo por causa da droga da vizinha. Eu odeio aquela mulher com todas as forças (nada me tira da cabeça que foi ela que inventou para a minha mãe que eu estava dando uma festa na casa dos meus pais na noite que ela foi assaltada e levaram a TV e o videocassete, o que é a mais deslavada mentira do mundo, e que fez com que eles perdessem a confiança em mim – sim, a minha mãe é capaz de acreditar naquela vaca e não no próprio filho) e fico muito indignado quando vejo a minha mãe dando ouvidos para aquela mulher. E sim, eu perdi a cabeça e falei coisas para os meus pais que eu não deveria ter dito, de uma forma que eu não deveria ter dito.

Droga!

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