Qual é o jeito mais fácil de tornar um objeto invisível? Segundo Douglas Adams, do Hitchhiker’s guide to the galaxy, é utilizando um campo pop. E o que é um campo pop? Pop, nesse caso, significa “problema de outra pessoa”. Assim sendo, se uma pessoa olha para um objeto e vê nele um problema, e se der conta que este é um problema que não diz respeito a ela, ela simplesmente vai ignorar o problema, deixar para outro resolver, afinal o problema é dele.
E por que estou escrevendo sobre isso? Bem, quem acompanha o que eu escrevo já reparou que eu me meto em brigas fáceis. Não brigas de se pegar no tapa, mas sim de ficar discutindo, xingando, etc. É o que aconteceu esse fim de semana com o Políbio Braga, com a revista Trip, enfim, com um monte de gente… Mas é que é aquilo: se eu vejo uma coisa que não acho certa, mesmo que não diga muito respeito à minha pessoa, eu fico indignado, chateado, mordido enfim. Não manifesto 100% das minhas mordeduras, mas volta e meia me sinto tentado a botar as manguinhas de fora.
E é justamente pensando no campo pop que eu leio o texto Não sou voluntária, sou militante!, onde a Gislene Bosnich, da novae, se coloca contra o projeto “Amigos da Escola” e outros projetos de voluntariado. O argumento? Que projetos voluntários estimulam o desemprego, já que trabalhadores gratuitos tiram o trabalho de pessoas especializadas. Sinceramente, é ver a situação de forma muito rasa… Posso dar um exemplo pessoal, já que eu participei de um projeto voluntário, dando aulas de informática para pessoas carentes. Se não fossem aquelas aulas, dificilmente tais pessoas teriam acesso à informação que eu dei, visto que elas não tinham condição para fazer um curso na área. Assim, o meu trabalho voluntário ajudou a alguns alunos a arrumarem empregos, e sem tirar o trabalho de ninguém, já que o público alvo aí era justamente aquele que nunca é visto como consumidor, pois não tem como consumir. E quanto a desempregar professores, não consigo acreditar que o projeto “Amigos da Escola” consiga fazer isso. Para começar, o trabalho de volutariado não é algo confiável em termos de mão de obra: o amigo da escola se compromete a ir tal dia na escola, não está assinando nada que diz que ele estará de qualquer maneira (tirando problemas de saúde ou acidentes) lá, como é o caso de um profissional. Os Amigos da Escola trabalham mais dando aulas em pequenos cursos, ou dando reforço escolar, nunca substituindo o professor. Aliás, esse projeto é uma das poucas coisas boas que eu vejo que surgiram no governo FHC, já que há uma parceria alí da Rede Globo com o Comunidade Voluntária… Mas, enfim, é mais fácil simplificar e tapar os olhos, não vendo que há trabalho para ser feito e falta gente para fazê-lo. É que é facil fechar os olhos e não se aprofundar, afinal isso tudo nada mais é que um problema de outra pessoa.
Mas como não podemos nos entregar pros home, mas de jeito nenhum, amigo e companheiro, convido o vivente para ouvir Peleia, do Ultramen. Tá lá no site deles, disponível em mp3…