Sou leitor a bons tempos da revista Trip. Acredito que seja uma das melhores publicações que existem hoje no Brasil, seja pela criatividade, seja pela irreverência. É corajosa, a ponto de ter peitado durante anos a indústria do cigarro no país. Até conseguir mostrar mulher nua sem ser bagaceira ela consegue. Muito bem feita, com um visual muito bem bolado, e que vez por outra vem com ótimos CDs. Alguns desses CDs podem ser chamados de históricos, tais como o \”Zoeira Hip Hop Carioca\” (Trip #80), o \”CEP 20.000\” (Trip #83), o \”Música Eletrônica + Brasil\” (Trip #78) e o \”Sul Music\” (Trip #85), que mostrou trabalhos novos de muita gente boa que simplesmente não aparece no circuito comercial. Eu pessoalmente tenho 11 CDs deles. Aliás minto, são 12, já que acabei de receber pelo correio o CD da edição #88 (abril 2001) da Revista Trip. Recebi depois que mandei um email para lá de desaforado, reclamando do fato que algumas edições da revista são vendidas sem o CD. Sim, são vendidas sem o CD: simplesmente você vai lá na banca, compra a revista, chega no conforto do seu lar e acaba encontrando lá pelo final da revista (na página 112, para ser mais exato) a descrição do conteúdo do CD. \”Que CD?\” você se pergunta. Vai no jornaleiro, mostra a matéria para ele, que por sua vez entra em contato com o fornecedor e daí se fica sabendo que a edição que você comprou vem sem o CD. Não, que não era prá me preocupar, já que o preço de capa era menor…
Olha, é brabo. Você nas suas mãos uma revista que sempre agitou entre as pessoas o inconformismo, o procurar reclamar seus direitos, e ela, justo ela, vem com essa: uma edição que é incompleta, com preço diferenciado na capa. Repare o detalhe: o preço é impresso na capa. O que custava, nesse caso, imprimir junto \”Esta edição NÃO CONTÉM o CD\”? Sim, óbvio que eu mandei um email prá lá de desaforado reclamando. Mandei o mesmo email várias vezes, até que veio uma resposta, dizendo que que isso era um teste de mercado, para ver se o consumidor realmente quer que o CD venha junto, que a revista não é uma editora musical, etc, etc, etc… De certo para me deixar alegre perguntaram qual era o meu endereço, para que eu pudesse receber pelo correio o CD que não constava da edição. Dei o endereço, esperei alguns dias e agora estou ouvindo-o. Bom, muito bom, é uma ótima seleção. Reclamei para a editora e ela ouviu a minha indignação. Mas, para o azar da Trip, eu não estou feliz. E por que?
Simples: eu comprei a #89, onde está lá no índice: \”CD DA EDIÇÃO Festival Rec-Beat ao vivo 102\”. CD? Droga! Comprei outra revista sem o CD!!! E novamente nenhuma indicação na capa da revista dizendo que aquela revista era desfalcada, absolutamente nenhuma. Na hora de comprar a revista (que é lacrada com um plástico na banca, o que impossibilita que a gente possa ver se a revista é desfalcada ou não) eu virei ela de cabo a rabo para ver se na capa havia uma indicação. Não, realmente não havia absolutamente nenhuma. E está lá na página 102 a descrição do que foi o Rec-Beat, com comentários sobre todas as músicas feitas pela cantora Paula Lima e pelo pessoal do Cordel de Fogo Encantado (que por sinal fiquei conhecendo em um outro CD da Trip). Mais uma vez me senti o verdadeiro palhaço, afinal eu achava que a minha reclamação havia adiantado para alguma coisa. Adiantou para ganhar um CD, mas e daí? Agora se eu quiser esse CD vou ter que procurar uma revista Trip nas bancas com o diabo do CD junto, afinal tá lá em todos os CDs que eu tenho: \”Este CD é parte integrante da Trip nn. Não pode ser vendido separadamente.\” É óbvio que eu não vou comprar outra revista só por causa de um CD… Como consolo me dei até ao trabalho de acessar a página da revista para ver se as músicas eram disponibilizadas lá. Não, não eram. Pior ainda: acabei descobrindo que a edição #87 que eu comprei da revista também não veio com o CD. Simplesmente me foi vendida uma informação pela metade, pois estou numa área que está sendo pesquisada, já que a revista não é um editora musical… Ok, pode até não ser, mas custa avisar o consumidor? Eu com todo o prazer do mundo pedia para um amigo meu em São Paulo comprar a revista para mim. Mas não, fiquei sabendo da pior maneira possível que sou um teste, sou um mercado sendo pesquisado.
Eu da minha parte já decidi: essa foi a última Trip que eu comprei, pelo menos até ver ela com um CD na banca. Ou, se não tiver o CD, ter estampado, junto com o preço \”diferenciado\”, bem claro para quem quiser ver, o aviso de que \”essa Trip não contém o CD\”. Espero que outras pessoas entrem nessa, até a revista passar a respeitar novamente o seu consumidor. É realmente triste uma revista legal vir com uma atitude mercantilista dessas. O CD da Trip é algo que é simplesmente muito bom e que se for para determinado público ser privado dele este tem mais que saber que está sendo discriminado antes de gastar dinheiro com a revista desfalcada, possibilitando a compra da revista completa por outros meios. E se você teve paciência para ler essa até o fim, gosta da Trip e acabou de descobrir que a sua também veio sem CD (ou se sensibilizou pros azarados que acabaram caindo nessa armadilha) não deixe por menos: reclame, bote a boca e divulgue esse boicote à revista até eles aprenderem a tratar a gente com o respeito que eles nos ensinaram a reinvidicar. E se você acha que tem coisa mais importante para se reclamar no mundo, ok: aproveita e dá o dinheiro da revista para alguém que precisa. Valeu!