Hoje fui no Instituto Goethe, onde havia uma \”queima de arquivo\”. É que o Instituto decidiu ter só CDs no acervo da sua biblioteca e assim botou a venda, a 2 reais cada, os seus LPs. É uma daquelas oportunidades perfeitas para comprar aquelas coisas que você nunca compraria em sã consciência, tais como um LP do Falco, por exemplo. E ainda pegando as \”pérolas\” deu para catar algumas preciosidades, tais como uma coletânea de jazz dos anos 30 (jazz americano cantado por americanos… até me surpreendi quando escutei: esperava ouvir aquele jazz meio de cabaré tipicamente alemão), uma gravação feita pela orquestra sinfônica de Londres de duas peças do Kurt Weill e uma coletânea de rock alemão do começo da década de 80 (muuuuuita coisa ruim, mas a primeira faixa mata a pau: Major Tom (Völlig losgelöst), de Peter Schilling). Isso sem contar com o disco que estou ouvindo agora: o Requiem, de Mozart. Lindo, simplesmente lindo. Sempre tenho medo de gastar dinheiro com música clássica, pois não conheço o que realmente vale a pena. Depois desse disco estou me sentindo mais seguro para comprar o CD…
Mas a grande compra diz respeito a 8 discos com música erudita contemporânea alemã. Arnold Schönberg, Michael Koenig, Roland Kayn, entre outros. Presença principal: Karlheinz Stockhausen, sem dúvida o músico mais criativo e maluco do século XX. Obras que são legítimas pérolas, para guardar e nunca escutar. Hein? Que foi? Não sabia? Todos esses músicos são ótimos para serem conhecidos e ter a sua obra analisada no que diz respeito a que influências exerceram. Schönberg, por exemplo, serviu papinha na boca de Arrigo Barnabé, que cresceu dodecafonista antes de sair perguntando prás moçoilas se elas tinham medo de fazer amor com um bandido… Koenig e Stockhausen influenciaram uma pá de gente, tais como os Beatles, Kraftwerk, Can, Björk… Só que seus trabalhos, apesar de criativos, rompedores de paradigmas, etc, etc, tem um pequeno grande problema: são invariavelmente chatos. Insuportavelmente chatos. Chatíssimos. Ouvir a Klavierstücke I-XI, por exemplo, pode ser enquadrado na categoria tortura cruel. Ok, músicos podem até gostar devido aos detalhes ali encontrados, mas um reles mortal como eu acho horrível.
Ok, se é assim, a pergunta: porque então comprei tais discos? Porque não deixei de lado todos os discos desses compositores, se eu sabia que eram chatos? Masoquismo? Não, é que, apesar de chatos, é necessário conhecer tais obras. Elas serviram/servem de base para as melhores coisas que se fez no final do século XX. Dizer que sem Stockhausen não haveria um Portishead é exagero, mas com certeza se não fosse o trabalho de malucos como ele hoje dificilmente apreciaríamos a beleza que há por trás de um ruído ou de notas meio que jogadas ao acaso. Afinal, foi na primeira metade do século XX que esses caras deram a cara para bater, tendo que ouvir muitas e muitas vezes a pergunta: \”Mas isso é música?\” Sim, houve uma época que se perguntava isso por causa de coisas feitas dentro de conservatórios de música, não por causa do bonde do Tigrão. Está certo que não são músicas fáceis, agradáveis, como é o caso das peças de Mozart, por exemplo, mas tem toda uma lógica na sua construção que merece ser conhecida e analisada. Ouvir obras desse tipo na pior das hipóteses vai servir de base para escolher aquele CD de aniversário para aquele amigo mala que se faz de intelectualóide e que não pára de encher o saco. O perigo é ele gostar e você sempre que visitar ele será obrigado a escutar a coisa junto…
Mas mudando de assunto, o Carlos Nepomuceno fez uma relação interessante entre a enchurrada de emails que recebemos e a arte zen dos tombos de bicicleta. Simples e legal.