Eles se escondem atrás de um grandalhão obeso e raramente gastam seus elogios com alguém. O grandalhão, não fosse de mentirinha, talvez ajudasse os amigos Charles Pilger, Maurício e Vicente Renner, Leandro Souza, Leandro Vignoli e Diego Fernandes, do Vale do Sinos, a defender-se das críticas que recebe o Gordurama, site em que escrevem sobre livros, filmes, e, principalmente, música.
A página, estampada pelo tal grandalhão, existe desde 2003 e começou a ser bolada quando Diego, órfão do zine CardosOnline e inspirado na região onde morava, descobriu no seu convívio a “mão-de-obra” do que viria a ser o Gordurama: estudantes de jornalismo (como ele) e um webmaster habituado à função.
– O gozado é que tem um monte de gente que acha que o nome do site é porque eu sou gordo – ri o Charles, o tal webmaster.
O cara conta que, segundo explicação do Diego, de algum modo “gordurama” virou sinônimo de comida. E, aos poucos, se transmutou em uma gíria. Qualquer coisa de qualidade duvidosa era gordurama. Em pouco tempo, qualquer coisa podia ser gordurama, não importando o que fosse, como fosse, onde fosse.
– Divulgar artistas de que gostamos, além de conhecer muitas pessoas, é só um bônus – conta Diego, 24 anos, que hoje reside em Londres e assina a coluna “Bastardo”.
Mas, como as páginas do Gordurama não são reservadas apenas a esses artistas, é comum deparar com opiniões nada lisonjeiras sobre bandas que muita gente curte, como Skank e Cachorro Grande.
– Acho injusto ressaltar que “falamos mal”, porque as críticas negativas são contrabalançadas com ironia e humor – justifica.
Humor capaz de fazer rir – ou bufar – quem lê seu cantor favorito ser esculhambado e de encher a caixa postal do site com mensagens que, respondidas, irão para a seção de cartas – uma das mais engraçadas. Eles até batizaram de “xingue-nos” o link que permite a interatividade.
Unanimidade entre os leitores, dividam ou não o gosto musical dos caras, é que os textos são divertidos, ótimos de ler. Críticas de shows podem ser pretexto para narrar, em primeira pessoa, episódios sem parentesco algum com a música. E eles se puxam no ofício: não escrevem em bloguês, respeitam pontos e acentuação – um luxo hoje em dia.
– A intenção do site é mais do que “informar”. Acho que “formar” seria o termo certo. Queremos um contato bastante íntimo com os leitores, mesmo que através do confronto e da exposição de idéias que não são exatamente bem aceitas – define Diego.
A partir do momento em que se é elogiado dessa maneira por um caderno da Zero Hora (no caso o Patrola, o que é mais grave ainda) é de se ficar desconfiado de que alguma coisa estamos fazendo de errado…