Busão do rock gaúcho

No mínimo: Hip hop para turistas

Viajar de ônibus com Kurtis Blow pelas ruas do Harlem e do Bronx, onde surgiu o hip hop, é um privilégio. É como se João Gilberto fizesse sinal para o frescão na Avenida Atlântica e resolvesse contar a história da bossa nova aos passageiros. “Nova York era uma cidade falida em 1973. E, se Manhattan estava um tanto pobre e violenta, imagina o South Bronx! Ninguém tinha emprego nem pagava aluguel. Vários donos de imóveis botavam fogo nos prédios para receber o dinheiro do seguro. E o povo não só continuava morando ali como adorava fazer festa. Numa delas, nasceu o hip hop”, lembra Blow, diante de uma platéia de turistas japoneses, sul-africanos, ingleses, canadenses, brasileiros e americanos, enquanto passeia pelas ruas novaiorquinas. Ele foi o primeiro rapper a assinar com uma grande gravadora, a inglesa Mercury/Polygram, em 1979, e a ganhar um disco de ouro, com “The Breaks”, no ano seguinte.

Do jeito que o rock gaúcho é endeusado já vejo uma Topic com indies cariocas, paulistas e de Brasília indo do Ocidente até o Garagem Hermética tendo como guia o Júlio Reny

Que Origami? Eu quero é o Oqo!

No filme Piratas do Vale do Silício tem uma parte em que Steve Jobs fica sabendo que vai receber uma visita do pessoal da Micro Soft (que era como a empresa se chamava na época) e solta algo como “ah, aqueles caras não tem bom gosto”. Pois é, essa cena é a primeira coisa que me vem à cabeça quando eu olho fotos dos tablets do Ultra-Mobile PC (ou se você preferir Origami):

Origami Samsung Q1

Olha, a única palavra que eu tenho para esse modelo, assim como os outros mostrados, é FEIO. Por Deus, o que custa fazer um dispositivo mais bonito? E ainda tem o fato de que ele é grande, do tamanho de uma caixinha de DVD. Não, não dá para entender o gosto do pessoal de Seattle.

Se é para comprar um computador de mão que roda o WindowsXP, sou mil vezes mais o Oqo:


Elegante, pequeno (é do tamanho de uma carteira de bolso), com praticamente as mesmas características do UMPC. O único problema do Oqo é que ele é simplesmente o dobro do preço do UMPC. Mas enfim, como eu de qualquer maneira não vou comprar um handhelds nos próximos meses, só podendo sonhar em ter um, isso não chega a ser um problema tão grande assim…

O mundo é dos crédulos

Fui hoje na biblioteca da Unisinos devolver um livro quando vejo sobre o balcão alguns marcadores de página. Como estava com pressa nem me dei ao trabalho de olhar direito o que era, mas como estava precisando de um marador peguei. Bem, o caso é que o marcador era na verdade a propaganda de um livro, e eu confesso que tive que segurar o riso no ônibus. Segue o texto:

A vida em Saturno: Visando contribuir, na medida do possível, para maior conhecimento da vida e costumes dos habitantes de Saturno, Diamantino Coelho Fernandes pediu ao irmão Thomé que consultasse a Excelsa Mãe de Jesus sobre a possibilidade de obter maiores informações acerca da vida naquele planeta. Dois dias após a consulta, o irmão Thomé informava que Nossa Senhora concordara, dispondo-se a pesquisar nos arquivos do mundo espiritual o que neles houvesse em torno da vida em Saturno e logo iniciaria o ditado nesse sentido, o que, feito, encontra-se nesse livro. Como nós encarnados necessitamos dos exemplos, negativos e positivos, para traçar parâmetros e assim nos orientar, a descrição da Vida em Saturno é fundamental para que possamos nos entender melhor. Além disso, as informações sobre a vida dos nossos irmãos vizinhos é importante para que nós possamos nos localizar quanto ao nosso estágio evolutivo atual, bem como, ter uma boa idéia, agora, do nosso sistema de vida futuro. Conteúdo maravilhoso, que nos descreve como vivem alguns dos bilhões de irmãos, em uma, das muitas moradas do Nosso Pai, o Criador.

Sim, esse livro realmente existe. Eu até pensei que era piada, mas não, tem gente que realmente acredita numa coisa dessas. E eu pensava que era o pessoal da Gnose que viajava na maionese…

De fato a humanidade é algo surpreendente.

Copo? Que copo?


Cá estava eu na frente do meu computador navegando a esmo pela rede quando o Phelipe, por ter me visto numa lista de discussão falando sobre marketing de guerrilha, me perguntou se eu sabia o que tem no copo vermelho. O Phelipe me passou que esse copo tá espalhado em Salvador, no Recife e no Rio. Bem, eu não estava sabendo de nada sobre essa história e fui dar uma olhada. O site não mostra muita coisa, mas é interessante ver que no registro.br ele foi registrado pelo pessoal do Espalhe. Opa, interessante isso! É a empresa onde trabalha o MrManson, do Cocadaboa!

Bem, o que deu para descobrir da história? Olhando as fotos do site se percebe que quem encomendou essa campanha tem café no bule, afinal não é assim para fazer uso do camarote do Alexandre Accioly, que é o cara que trouxe o U2 para o país… Mas enfim, o caso é que é engraçado ver que no fim das contas se recorre ao Google para ver como o viral foi espalhado e se vê coisas assim:

Esta é uma foto da festa O QUE TEM NO COPO VERMELHO, um evento promovido pela empresa de bebidas JOHNNIE WALKER.

Pois é, e agora a pergunta: Será que essa história do copo vermelho tem realmente algo a ver com o Johnny Walker? Pois é, tem:

Galeria de fotos do site Johnny Walker Red Mix
Galeria de fotos do site Johnny Walker Red Mix

Sim, fotos tiradas no camarote do show do U2, com a galera toda com um copinho vermelho na mão… Eu fico imaginando o que vão sentir as pessoas que mandaram poeminhas falando de amor, esperança, paz e etc etc etc pro site do copo quando virem que cairam no conto de uma empresa de bebidas. Bem, vai valer como lição de vida no sentido de que é para se desconfiar das coisas que se vê por aí. Mas, enfim, voltando à galeria de fotos do Johnny Walker Red Mix, é engraçado ver que nela não tem a foto com a Daniella Cicarelli, mas em compensação tem uma com o Roger Lerina. 😀 Acho que dentro de alguns dias vamos ver uma nota na contracapa do segundo caderno da ZH falando da sacada genial de marketing feita pela Johnny Walker…

E de qualquer forma eu me sinto meio estúpido escrevendo esse post, já que no fim das contas estou ajudando a Johnny Walker e a Espalhe na divulgação do RedMix, mas enfim, é que pelo menos para mim foi divertida essa caça. E enfim a pergunta que não quer calar é: tem sentido uma empresa ficar pichando por aí? Um artista fazer uma intervenção urbana até vai, mas isso, sei lá, não me desce bem na garganta.

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É fogo

Quando cheguei hoje de noite em casa liguei pros meus pais e, enquanto estava no telefone, senti um cheiro de queimado no ar. Pior: comecei a tossir. Pedi um tempo para a minha mãe, fui ver se nada estava pegando fogo aqui no prédio e acabei conversando com o vizinho de fundos, que tinha saido de casa justamente porque ele sentiu um cheiro de queimado no quarto dele. Conversa vai conversa vem ele falou que podia ser uma queima de lixão, lá do outro lado da faixa. A teoria tinha sentido, já que não se via fogo algum e o cheiro de queimado era bem forte. Tossindo um pouco me despedi da minha mãe no telefone, liguei para a Taila e nem conversamos muito tempo, pois minha garganta estava doendo. Abri a porta do apartamento, liguei o ventilador e deixei um pouco de ar puro entrar, tirando o cheiro de queimado do ar. Passou um tempo e fui deitar.

E estava lá eu deitado, dormindo, quando escuto um barulho de sirenes passando bem em frente ao prédio onde eu moro. Gelei, pensando que podia ser fogo perto. Abri a janela do quarto para ver se era algo próximo quando vi, distante mas não muito, a fumaça. Assim, botei a minha roupa, peguei a máquina fotográfica (esquecendo obviamente de conferir se tinha pilha: não tinha) e fui conferir. Não, não era um lixão que tinha pegado fogo, mas sim uma casa abandonada, ali na rua São Domingos. Ou seja, umas duas quadras antes da faixa. Ela tinha pegado fogo primeiro na frente, os bombeiros foram lá, apagaram, e foram embora. Acho que foi essa a fumaça que entrou no meu apartamento quando eu estava no telefone. Algumas horas depois o fogo reapareceu, dessa vez na parte dos fundos. Conversar com a vizinha que estava lá foi interessante, pois ela estava dando graças a Deus, já que agora não ia mais ter ali “esse bando de vagabundos e ladrões” ocupando o espaço, se referindo aos mendigos que dormiam lá. “O fulano deve estar contente! Eles viviam invadindo o terreno dele para roubar uvas.”, sendo que o fulano era o vizinho do lado da casa. De fato, para um cara que estava vendo uma casa pegar fogo ao lado da sua ele estava bem calmo, tinha até um sorriso no rosto. Aliás, quase todo o pessoal da rua olhava o fogo com uma expressão de alegria, como se um grande mal estivesse indo embora na fumaça…

Bye Bye Brasil

1993. Foi nesse ano que eu vim morar em São Leopoldo pela primeira vez. Conversei com os meus pais, dizendo que gastar mais de 3 horas por dia indo de Taquara até a Unisinos era para matar, e eles resolveram me ajudar e me meteram numa pensão. Pensão essa bem do lado da prefeitura, de forma que eu estava a uns 50 metros da rua principal da cidade. Assim era pegar um livro, caminhar aquela uma quadra e meia e me instalar no MackBar, que na época era 24 horas e um dos lugares mais fuleiros do centro (na real ele nesse ponto não mudou muito…), onde eu ficava bebericando algumas garrafas de água mineral enquanto ficava ali, lendo. E lá fui fazendo amigos. Tinha o Nilo, o Giovano, o Maurício, o Marcelo, o Crai, toda uma gurizada que estudava na Unisinos e que estavam ali como eu, de passagem. E na nossa roda volta e meia aparecia um senhor, que entre um gole e outro de conhaque ou qualquer outra bebida que tivesse à mão nos mostrava seus desenhos super coloridos feitos em um pedaço qualquer de papel com giz de cera e que nos contava histórias com um sotaque meia acastelhanado, lá da fronteira. O nome dele? Luíz Brasil.

Eram bonitas as pinturas. E era comum ver elas por São Leopoldo. Qualquer restaurante tinha um quadro feito pelo Brasil pendurado na parede. Qualquer bar. Boteco? Tinha um quadro pendurado. Pizzaria? Lá tava o quadro do Brasil. Lembro que havia na Unisinos um mural maravilhoso desenhado por ele, num DA que depois foi demolido para a construção do Unilinguas. E ele desenhava e desenhava sem parar. Volta e meia, no meio da conversa, tirava uma folha de papel (às vezes uma folha de enrolar pão) e criava. Não foi uma ou duas vezes que ele se encantava com uma pessoa e dava uma de suas obras para ela. E ele contava histórias, muitas histórias. Histórias do tempo da ditadura, histórias da amizade que ele tinha com artistas, histórias de Mario Quintana, de quem ele gostava muito. Aliás é do Mario Quintana a lembrança mais forte que eu tenho do Brasil. Ele costumava contar uma história em especial, aquela de quando o Mario foi saudado por um leitor (no caso, um militar) que, resolvendo ser simpático, disse “Gostei muito de seus poeminhas” no que Quintana de bate pronto respondeu “Muito obrigado por sua opiniãozinha”. E o Brasil se exaltava, apontava para o céu e repetia “Opiniãozinha! Opiniãozinha!”, soltando um sorriso maroto.

Nos últimos tempos eu não andava vendo muito o Brasil. Nas poucas vezes que eu o via era comum ver ele prostrado, dormindo do lado de um copo, com a sua sacola cheia de papéis. Quando eu o encontrava acordado era comum ele olhar para mim, estalar os dedos e me dizer sorrindo “Charles Bukowski!” e cada um seguia seu caminho, depois de um rápido cumprimento. No mais, eu não sabia mais sobre ele. E eis que hoje fui ver o blog do Éver e ali vi que faleceu o Brasil. Sim, foi-se o pintor dos meninos de ruas e das prostitutas de São Leopoldo, foi-se o boêmio que não tinha limites e que se deixou engolir por eles. E se foi uma pessoa boa, que, numa mesa de bar, contava história e desenhava.

– Charles Bukowski!

– Buenas Brasil! Como vai?

– Como um passarinho! Como um passarinho!

We were sure we’d never see an end to it all

Eu, Bolota, Diego e Vicente no MSN. Sim, só faltou o Morris e o Vinólia para termos uma reunião gordurosa online. E de repente me deu uma vontade de estar no clipe de 1979, do Smashing Pumpkins.

Não há como descrever a sensação de plenitude utópica referente à festas que esse clipe proporciona. Se tem algo que justifica toda a arrogância do Billy Corgan é essa pequena obra-prima de pouco mais de três minutos.

Só para constar

Globo Online – OAB: Wilson Simonal não era ‘dedo-duro’

BRASÍLIA – Processo na Ordem dos Advogados do Brasil instaurado em 2002 concluiu que eram descabidas as suspeitas de que o cantor Wilson Simonal, já falecido, era colaborador do regime militar. Segundo nota divulgada neste sábado pela OAB, levantamento nos arquivos do extinto SNI atestaram que Simonal não era “dedo-duro”, como o cantor chegou a ser acusado.

A Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) da Ordem dos Advogados do Brasil examinou documentos do antigo SNI, da Polícia Federal, recolheu depoimentos de pessoas que conviveram com Simonal e analisou material jornalístico do começo dos anos 70. Em 1972, Wilson Simonal foi acusado de participação em um seqüestro e de ter delatado aos órgãos repressores do governo militar uma série de pessoas ligadas ao meio musical. O cantor sempre negou ser um colaboracionista. Simonal completaria neste domingo 67 anos de idade.

– A Comissão não é um tribunal para decidir sobre a questão formulada, mas proferiu sua conclusão baseada na força moral da OAB, entidade à qual se vincula – explicou o então conselheiro federal Rogério Portanova (SC).

Tenho aqui em casa alguns discos da coleção Nova História da Música Popular Brasileira, que foi editada pela Abril lá em 1978. E um dos melhores volumes é o Baden Powell e a Bossa Nova, onde tem uma gravação de Sá Marina, com o Wilson Simonal. No respectivo volume não se falava nada sobre o cantor, apenas sobre os autores da música. E era estranho isso, porque só por essa amostrinha se percebia que o Wilson Simonal era um baita de um cantor. E quem dizia que se ouvia falar o que quer que fosse sobre o cara? Nada, não se falava nada. Só fui entender o que acontecia quando ouvi falar que o Simoninha estava empenhado em limpar a mancha de delator que foi impugnado a seu pai.

Pois é, eis que provado está que o cara não era delator coisa nenhuma. E é interessante ver que o Brasil conseguiu apagar de sua memória um cantor que fez um sucesso enorme, num processo de macartismo às avessas. Peraí? Afinal quem mandava? Era a direita ou a esquerda? Pois é, em certos pontos parece que a história do país era mandada pela esquerda, já que o cara simplesmente entrou em ostracismo, o que é no mínimo estranho para alguém que teoricamente colaborava com o governo que mandava na ocasião. Talvez essa história ajude a entender como funciona o mecanismo de tapinhas nas costas que impera no Brasil, principalmente dentro dos jornais e dos centros culturais, onde o que importa é a rede de amizades.

Update: pois fiquei sabendo pelo Radinho que há um outro caso mais ou menos parecido, que é o caso do jornalista Celso Lungaretti, que teria entregado, sob tortura, Carlos Lamarca. Bem, eu fico me perguntando como é que alguém pode condenar o fato de alguém abrir a boca durante uma sessão de tortura… O Lungaretti, para se livrar da condenação moral que o persegue, escreveu inclusive um livro, o Náufrago da Utopia. Vou ver se acho ele por aí.

Coisa linda

Junte Isobel Campbell, ex-vocalista do Belle & Sebastian, e Mark Lanegan, do Queens of the Stone Age, e que você tem? Esse belíssimo disco:

Ballad of the broken seas

É daqueles discos perfeitos para ouvir à meia luz, com um copo de vinho, numa noite fria. Lindo, lindo, lindo!

A César o que é de César: descobri esse disco graças ao Webtrax Bittorrent News.

Cry cry cry

Cinebiografia tem dessas… Não é tanto o fato de mudar uma coisa aqui e ali, de pintar as coisas com mais ou menos cores. O grande defeito mesmo está em botar o Joaquin Phoenix cantando as músicas do Johnny Cash.


Mesmo com isso o filme Johnny e June é um bom filme, que vale a pena ser visto. E ainda assim ser ouvido, pois até que o Joaquin não faz feio não… Mas se ele dublasse o velho Man In Black teria sido melhor, beeem melhor.