Já comi

Ontem no Sarau Elétrico foi oferecido o novo livro da Cláudia Tajes para quem contasse alguma história sobre um velho safado. Ninguém foi. Como o nome do livro é Por isso eu sou vingativa, foi ofertado então o livro para quem contasse uma história sobre vingança. De novo ninguém foi. Aí ficou aquele impasse até que um baixinha loira foi lá e contou uma historinha de velho safado. Eu até tentei da minha parte lembrar de uma história sobre um dos assuntos, mas nada. Fui só lembrar mais tarde, quando já estava indo para casa, o que é uma pena… Enfim, para não esquecer mais, creio que vale a pena contar aqui, já que mistura velhos tarados E vingança:

Em Taquara havia um ponto no centro, ali na esquina da Júlio de Castilhos com a Rio Branco, onde os aposentados da cidade se encontravam para falar besteira. Era o tradicional “Já comi”, em homenagem à frase mais proferida pelos velhinhos que lá ficavam. Não podia passar um rabo de saia que fosse que invariavelmente um dos velhos safados se manifestava, expondo que em um momento passado houve momentos de desbunde e esbaldo com a rapariga. E isso era com todas as mulheres que passavam, não importando idade, cor, nada.

Bem, eu não testemunhei o ocorrido, mas sim um amigo, que me contou que um belo dia estava ele perto do grupo quando viu uma garota bem nova passando, sendo seguida do tradicional bordão. Nesse momento uma mulher que estava passando por perto saiu a desancar o grupo, chamando a todos de idiotas, que aquilo era uma pouca vergonha, que eles não podiam sair manchando a reputação das pessoas assim, que aquela guria até na igreja ia e por aí vai. Literalmente meteu a boca no pessoal. Então, no que ela foi embora, saiu o seguinte diálogo:

– Mas o que deu nessa mulher? – perguntou um, no que outro retrucou:

– Pois é, culpa minha…

– Como assim?

– É que já comi… – e completando com maldade na voz, lascou – E mal.

Mais um herói que se vai

Esse mês de outubro de 2011 está danado… Primeiro foi o Steve Jobs que se foi, agora o Dennis Richie. Se o Jobs ajudou a popularizar a informática, o dmr foi o cara que praticamente criou a base da informática como a conhecemos hoje. Ele foi, entre outras coisas, co-autor de duas coisinhas: o Unix e a linguagem C. Sobre o Unix é incrível ver como um sistema criado em 1969 resiste ao tempo e ainda se mostra como uma das melhores soluções já criadas, seja na sua forma “pura” seja através de seus clones e derivados (Linux / MacOS X). E no que diz respeito ao C nem há o que comentar: praticamente TUDO é feito em C, seja de forma direta, seja através de compiladores para outras linguagens que são feitos em C. São raras as implementações de linguagens onde o compilador ou o interpretador não são feitas em C ou em C++ (que é derivado do C).

É, não é todo mundo que pode chegar e dizer “esse troço aí funciona porque muito do que eu criei serve de base para ele”, e o dmr era uma dessas pessoas, com a característica de que ele era um cara humilde, que dizia que se não fosse ele seria outro que teria criado tudo o que ele criou. Uma pessoa rara, sem dúvida.

1955-2011

Toda revolução tem que ter alguém para dar o primeiro passo. E a revolução do computador como ferramenta acessível para a grande maioria das pessoas veio de Steve Jobs. Isso é um fato. Se ele pegou a idéia dos outros (no caso dos pesquisadores do Xerox PARC) e botou numa embalagem bonita para vender não interessa, o fato é que ele teve a coragem de fazer isso e, dessa maneira, ele recriou o mercado de computadores pessoais, mercado que ele ajudou a criar quando, 10 anos antes, ele passou vender micro-computadores pessoais já montados. Sim, antes computadores pessoais eram kits que tinham que ser soldados pelos compradores.

Eu devo a muitas pessoas o fato de ter me tornado um profissional da área de informática, muitas mesmo. Foi por conta do trabalho delas que hoje eu tenho aqui na minha frente uma das mais poderosas ferramentas já criadas pela humanidade. Não, não estou exagerando! É só parar e olhar o que era o mundo a 40 anos atrás para ver como os computadores mudaram esse planeta. E não foram computadores imensos, monolíticos, como os pensados por Asimov e Clarke que fizeram a mudança, mas sim computadores de todos os tamanhos, se comunicando entre si. E boa parte desses computadores seguiam um preceito: serem ferramentas para pessoas comuns, não para engenheiros. Preceito esse ditado por uma pessoa em especial, e que foi mais que copiado por seus concorrentes.

E é aí, nesse ponto, que digo que hoje morreu um dos meus heróis. Ele não foi o melhor programador do mundo (até porque ele não era), não foi o melhor designer do mundo (até porque ele não era), ele não foi o melhor engenheiro do mundo (até porque ele não era). Ele foi tão somente a pessoa que se cercou de algum dos melhores programadores, designers e engenheiros e deu a eles uma visão de um produto que podia mudar a vida das pessoas. E assim o fez.

Obrigado mais uma vez Steve. Muito obrigado mesmo. Descanse em paz.