Cotas

Dando a olhadela costumeira no que foi publicado nos blogs e jornais da vida via Bloglines me deparei com o post do Liberal Libertino Libertário onde ele volta atrás e se coloca agora a favor das cotas para negros em universidades. Eu da minha parte acho triste, já que ele em 2003 escreveu um texto com argumentos bons contra as cotas, e ao estudar sobre escravidão pelo jeito ele meio que se deixou levar pela emoção, deixando a lógica de lado. Tanto deixa de lado que nem percebeu uma coisa muito importante: não foi o fato do pai dele ter estudado na UFRJ que fez com que ele tivesse também estudado na UFRJ, mas sim o fato dele ter prestado vestibular e ter passado. E como foi que ele passou no vestibular? Não seria porque ele estava mais preparado para o exame? E porque ele estava mais preparado? Não seria porque ele teve acesso a um ensino fundamental e médio de qualidade?

Pois é, esse é o grande nó gordio do sistema de cotas: não adianta nada reservar vagas para quem quer que seja se o ensino fundamental for ruim. Na verdade isso abre espaço para a discriminação profissional, afinal se hoje em dia você vê um médico negro (será que devo dizer afrodescendente?) você sabe que ele está lá pelos seus próprios méritos, que ele está lá porque ele passou pelo filtro de um processo seletivo. Se entrar o sistema de cotas vai aparecer a dúvida: “Será que esse cara que vai me operar é bom mesmo? Será que ele entrou na universidade porque sabia das coisas ou teve uma ajudinha?” Sim, a gente sabe que concluir a universidade é bem diferente de entrar nela (ainda temos o fator de que um vestibular concorrido não implica em que o profissional formado seja melhor que o profissional formado por uma instituição que não teve tanta concorrência no vestibular; está aí o jornalismo no Rio Grande do Sul como exemplo disso) , mas de qualquer maneira o profissional vai ter seu currículo colocado em dúvida pela sociedade. Outra coisa a se perguntar é de quanto seria a evasão escolar de quem entrou por cotas, visto que quem não tem preparo não consegue acompanhar o curso direito. Outra coisa: quanto custa uma vaga em uma universidade pública? Será que com o dinheiro que vai se aplicar em um estudante fraco não se paga a educação fundamental de qualidade de duas ou três pessoas? Educação essa que colocará o aluno com pé de igualdade com os filhos das classes mais abastadas na disputa pelo seu lugar na universidade sem cotas?

Olha, eu lembro que votei no Paulo Paim para senador, e foi com tristeza que vi ele importar essa idéia dos Estados Unidos para cá. De qualquer maneira, ele não leva mais o meu voto mesmo

Hardware ruim?

Sabe, eu tenho que aprender a evitar o BR-Linux. Não por causa das notícias ali publicadas, que são muito boas, mas sim por causa dos eventuais comentários que aparecem toda vez que se fala no projeto Um Laptop Para Cada Criança. Ok, o projeto é polêmico, de fato devemos nos questionar se o uso desses laptops de 100 dólares realmente servem para substituir livros e para promover a inclusão digital (eu acredito que sim), mas há sempre alguém com má vontade em relação à especificação do computador. Para quem não sabe o protótipo inicial dele tinha a seguinte configuração:

* Processor AMD Geode GX500@1.0W operando a 366MHz
* Memória de 128MB DRAM
* Armazenamento não volátil de 512MB (provavelmente 1GB)

Olhando assim realmente parece pouco, mas espere aí, qual é a configuração ideal (segundo a Microsoft) para rodar o Windows XP Professional? Pois é:

* PC com 300 megahertz
* 128 megabytes (MB) de RAM
* 1.5 gigabytes (GB) de espaço em disco

Oras, mas as especificações das duas máquinas estão muito próximas! Como é que então esse laptop é uma caqueira tecnológica? De fato hoje há máquinas muito mais poderosas, mas tem que se ver que o fato de ter máquinas poderosas não transformam máquinas com configurações mais modestas em refugos. Se elas servem para rodar um sistema operacional pesado como o Windows XP porque elas não dariam para, com Linux, rodar vários sistemas educacionais, além de acessar a Internet?

Deu para entender porque alguns comentários me irritam?

TV? Para que TV?

Sabe, tenho acompanhado os debates sobre o padrão de TV digital que vai ser implementado no país e quanto mais leio sobre o assunto mais me parece que essa discussão é inútil. E por quê? Porque o que está em jogo não diz respeito a conteúdo, mas sim a formato. Discute-se sem parar sobre padrões mas não se discute uma coisa que eu acho muito importante: com o advento da web qual é a graça de se olhar TV? Qual é a graça de ficar na frente de um aparelho cuja maior interação que existe é o controle remoto, sem opção de procurar por programas, tendo que se servir daquilo que as emissoras de TV querem que você veja? Há sentido nesse tipo de coisa ainda?

Ok, certo, eu estou levando a questão para um lado muito pessoal, já que eu sou uma pessoa que não gosta de ter um horário para sentar na frente da TV para ver determinado programa. Também não gosto do fato de saber que perdi um programa legal porque estava olhando outro em outro canal. Não gosto ainda do fato de que ao ver um programa não posso parar ele para ir no banheiro, ou para pegar um lanche, nada, a não ser que eu use um videocassete. Também não gosto que programas legais sejam interrompidos por locutores chatos tipo Gloria Maria e Pedro Bial. Ou por propagandas de programas irrelevantes como o Big Brother. Não, eu não gosto nem um pouco disso, e não gosto tanto que para não me estressar eu prefiro não ter um aparelho de TV em casa. Ok, estou cogitando a hipótese de comprar um aparelho depois da Copa do Mundo, que é a melhor época para comprar TVs já que houve uma super produção para atender a massa que gosta de ver 22 marmanjos seminus correndo atrás de uma bola e que acabaram não sendo vendidos, mas é para ver DVDs, já que ver na tela do computador é meio chatinho. Sim, monitor de 17 polegadas não é o bicho. E ficar vendo filmes abraçadinho na Taila é bom demais. 🙂

No mais vou continuar fazendo a minha programação graças a sites como o YouTube. Na real o como aqui é meio retórico, já que o YouTube ganha disparado de qualquer servidor de vídeos na rede, conseguindo botar até mesmo o Google e seu GoogleVideo no chinelo. Alí facilmente se encontra coisas legais, bizarras, engraçadas, tristes e, por que não, educativas. É de se perguntar em que canal de TV, na hora que você quiser, você vai encontrar coisas como:

Bem, pela profusão de vídeos, errr, educativos japoneses já dá para perceber uma vantagem da rede sobre a TV: quando você iria poder fazer uma busca por assunto co-relatos? Nunca né? Pois é, é justamente essa série de funcionalidades que a web tem que não vejo na TV digital.

Sonhar é preciso

Pois é, agora alguns pontos de Porto Alegre estão disponibilizando acesso wireless gratuíto à Internet. Primeiro no Parcão, depois a Redenção e então a Restinga. Não, ainda não cobre toda a cidade, mas quem sabe um dia? Pois é, eu confesso que sonho com o dia que Internet vai ser visto como um serviço básico tal qual a água e a luz e ser disponibilizada para a maior parte das pessoas, principalemnte as pessoas de baixa renda. Sim, óbvio, primeiro os computadores tem que ser acessíveis, mas projetos como o OLPC e o Monicator estão aí para isso. E fico me perguntando porque não há mais cidades como Sud Menucci (onde as pessoas acessam a rede de casa de graça) no país… Não seria o caso de se fazer um projeto para difusão da conexão wireless junto à Associação Brasileira de Municípios? Eu realmente gostaria de ver mais e mais pessoas acessando a rede, e venhamos e convenhamos: os custos de conexão via telefone (seja normal, seja ADSL) é simplesmente proibitivo para a maior parte da população.

Inclusão digital para o país é bom e quanto mais rápido for feito melhor.

Kafka puro

Não sou lá um grande fã do Nemo Nox. Sei lá, simplesmente não sei dizer o que tenho contra o cara, mas enfim não posso deixar de recomendar a leitura do Por um punhado de pixels essa semana. Vá lá e acompanhe a trabalheira desgraçada que ele está tendo com os “labirintos burocráticos do meu processo de imigração para os EUA”. É impressionante como algo que deveria ser simples se revela uma enorme perda de tempo e um verdadeiro exercício de paciência.

Uarghuaaraaaaggaaaa

Aqui onde trabalho tenho uns colegas que volta e meia se reúnem para tocar. Pegam guitarra, baixo e na hora do meio dia se mandam para um estúdio, onde ficam tocando músicas do U2, Eric Clapton, e por aí vai. É o jeito deles de fugir do stress do dia a dia. E hoje é dia deles irem lá, ensaiar.

Pois bem, e não é que o baterista da banda, ao repassar uma batida com os colegas no planejamento do ensaio se entusiasmou de tal forma que, quando fui olhar o que era aquela bateção vindo dos lados do local de trabalho dele, as baquetas improvisadas foram atiradas para cima, com direito à galera se perguntando o que afinal de contas estava acontecendo. Não, não teve jeito, na mesma hora puxei da memória e catei esse vídeo aqui:


Puro “Animal style” esse meu colega 🙂

Diga não ao Wintel

A mais ou menos dois anos atrás escrevi um post falando sobre um computador de baixo custo que fosse ligado na televisão. Algo simples, sem um mega processador nem muita frescura. Bem, então agora eu pergunto: que tal o Monicator?


Eis a configuração:

  • CPU Godson 2C 400/800 MHz
  • 40 Gb de disco
  • 256 Mb de RAM
  • 4 portas USB2
  • saída VGA
  • entrada PS2
  • saída para TV
  • Sistema operacional Thinix 3.0 (baseado no CSIP RPLinux)
  • Editor Red Office (99% de compatibilidade com o Microsoft Office)
  • Firefox, Thunderbird, GAIM, GIMP e todos os softwares que estamos acostumados a ver tanto no Linux como no Windows.

And last but not least, o preço: 123 EUROS.

Sim, apenas 123 euros, 150 dólares, 321 reais. É de se perguntar quanto ficaria no varejo brasileiro um computador desses, levando em conta impostos e frete. Será que ficaria por 450 reais? 500? Olha, sei não, mas imagine o quão útil pode ser um equipamento desses para um pai de família, para um pequeno empresário. Sim, não é um computador para jogos, não é um computador para CAD, mas sim um computador para se fazer coisas úteis como editar um texto, trabalhar com uma planilha eletrônica, navegar na internet e por aí vai. Eu pessoalmente teria um, até para ter como backup. Sabe quando o teu computador resolve dar pau quando você mais precisa dele? Pois é… E não quero dizer nada, mas o mercado de informática voltado para as classes C e D (que tem TV, celular e geladeira comprados em vááááárias prestações) é um grande filão. Afinal o equipamento está ficando muito, mas muito barato.

Bem, enfim, para quem quiser saber mais sobre o Monicator pode dar uma olhada na página da YellowSheepRiver Inc. E vale a pena dar uma olhada na apresentação do produto feita na CeBIT. Ah, e quem visitar a página da empresa vai ver que o título do post não é uma provocação barata da minha parte contra quem prefere gastar centenas e centenas de reais com o Windows e o Office, mas sim é o lema da empresa: “Say no to Wintel”. Oferecendo soluções que funcionam por um preço desses a pergunta é “Why not?”. 😉

Influência

Ilustrada: Livro espírita marcou minha vida, diz Bruna Surfistinha

Em sessão de autógrafos nesta noite na 19ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, a escritora e ex-garota de programa Raquel Pacheco, 21, mais conhecida como Bruna Surfistinha, apontou o livro espírita “Ninguém é de Ninguém”, de Zíbia Gasparetto, como aquele que marcou sua vida.

Com um livro com um título desses como sendo um dos que mais marcaram a sua vida não é a tôa que a Bruna gostasse tanto de ir em clubes de swing…

Aliás, esse livro foi o primeiro livro pornográfico que eu vi na minha vida com censura para palavras de baixo calão. Tipo escrever “b…” para a vagina e “p…” para o pênis. É incrível como um hype pode fazer com que um livro tão ruim venda tanto. Se é para ler livro escrito por garota de programa mais vale a pena desenterrar em um sebo algo escrito pela Xaviera Hollander. Pelo menos a autora trata o leitor como adulto.

Esporte faz bem pra saúde?

Olha, tenho uma teoria que esporte não faz bem para a saúde. Pelo menos não da forma que se pratica no Brasil, com o cara estatelado na frente de uma TV torcendo para o seu time favorito e, no final de semana, se arrebentando num campo de futebol cheio de buracos tentando imitar o que os seus ídolos fazem. E dá-lhe contusões, braços quebrados, joelhos arrebentados, uma beleza. Aquecimento? Para quê? É só entrar em campo e botar para quebrar. Ou se quebrar todo. Não, esporte praticado desse jeito não faz bem para a saúde.


E para melhorar, ainda usam jogadores de futebol para vender cerveja. Sim, lá vai um monte de gordinhos com suas barrigas de cerveja fazendo dribles e comemorando a vitória com uma gelada. Se o idolo pode, porque não? Ê! Queria viver no mundo que a publicidade nos mostra…

Hollywood is calling

Essa é daquelas histórias legais que a gente vê de vez em quando no mundo… Jason McElwain é um garoto que tem autismo. Na verdade ele é classificado como um autista altamente funcional, o que faz com que ele consiga se relacionar com outras pessoas, se desenvolver a ponto de ter uma vida quase comum (mais ou menos o mesmo caso da Temple Grandin, a autista descrita por Oliver Sacks no livro Um antropologo em Marte) e, como muitos garotos americanos, ser apaixonado por basquete.

Devido à sua pouca altura ele nunca participou do time da escola dele, mas ele era uma espécie de mascote do mesmo, ajudando no que podia e incentivando os colegas. Querendo recompensar a sua dedicação, o técnico Jim Johson resolveu colocar ele no banco de reservas no último jogo da temporada 2005-06. Como ele é bastante popular na escola, várias pessoas foram ver o jogo carregando máscaras de papel com o rosto dele (ok, confesso que aí eu acho que americano se puxa na bizarrice…) e ficaram na expectativa de ver se ele entrava na quadra. E foi que o aconteceu: faltando 4 minutos para acabar o jogo, com o placar favorável, Johson se perguntou “e porque não?” e deu a Jason a chance de jogar, entrando na quadra para o delírio da torcida.

E aqui vem o grande detalhe da história toda:

Em 4 minutos ele fez 20 pontos.

Sim, ele virou herói na cidade onde mora. Melhor ainda, ele virou fenômeno nacional, a ponto de ser considerado um Muro de Berlim no que diz respeito ao preconceito aos autistas. A Disney já manifestou interesse em filmar a história da vida do garoto (sim, num daqueles clássicos filmes “doença da semana”), e essa semana ele se encontrou com George Bush. Nada mal para alguém que ficou meses e meses servindo água, recolhendo bolas, etc, etc…

E vale a pena ler o artigo escrito pelo The Independent, assim como vale a pena ver o vídeo: a invasão da torcida no final do jogo é algo.


Update: aliás, sobre esse assunto é bem pertinente um trecho de uma matéria do Globo Esportes que o Marcus Pessoa botou nos comentários do blog dele. Segue:

Bush, depois de ter faturado pontos políticos ao posar para fotos abraçando o novo herói nacional, ontem recebeu uma avalanche de telefonemas e e-mails acusando-o de politicagem. Os remetentes sugeriram que em vez de explorar a imagem de Jason, ele fizesse mais pelos autistas – lembrando que no orçamento, que acaba de propor à nação Bush, cortou todos os recursos destinados ao National Children’s Study, um projeto que investiga as causas do autismo, e eliminou os descontos que famílias de crianças autistas recebiam no tratamento da doença. O custo da terapia para cada uma delas chega a US$ 90 mil anuais.

Shame on you, Mr. Bush. Shame on you!