Todo mundo sabe a dor que carrega

Fabrício Carpinejar: Meu primeiro dia sem o Leandro

\”Porto Alegre – Um Uno saiu da pista e invadiu o canteiro central da freeway (BR-290), no km 87, próximo à Avenida Assis Brasil, por volta das 22h30min. O motorista Leandro Mohr, 32 anos, morreu na madrugada de ontem no Hospital de Pronto Socorro. Ele teria tido um mal súbito e perdido o controle do automóvel.\”
Jornal Zero Hora

\”A Dor não tem nada a ver com tuas características individuais. A Dor é uma pessoa que te confronta.\”
\”A Dor contemporiza, ilumina e aquece, gira igual sobre bons e maus. Põe frutos e os madura. Mas não os colhe.\”
Maria Carpi, Nos Gerais da Dor

Se eu tenho uma dor, eu não a abandono, não fujo dela. Eu quero alfabetizá-la, senão ela corrói as outras lembranças, se adona do que não é dela, se apossa das alegrias que a antecederam e das alegrias que estavam por chegar. Mas há dores analfabetas, arrivistas, que nos mostram o quanto a própria palavra pode ser fútil e desnecessária, o quanto que os planos podem nos contrariar, o quanto somos inexplicavelmente insignificantes. São poucas as vezes em minha vida em que renunciei a fala. Talvez em um aniversário em que ninguém se lembrou de mim. Talvez quando perdi minha avó e tive um sonho anterior em que ela me entregava uma carta. Mas eu ainda optava por não dizer nada. Tinha condições de terminar o jejum a qualquer momento. O pior é quando não se consegue falar mesmo tentando, não se fala por necessidade, ouso abrir a boca e não sai a corda da cisterna, o balde da chuva, o rumor da porta. Todo o corpo congestionado, trancado em tremores e estalos. Nada. Leandro morreu. Um amigo que cursava o mestrado em Letras Inglesas na Universidade Federal de Santa Catarina. Sua mulher é uma de minhas grandes amigas, Adriana, que trabalhou comigo na Unisinos. Ele teve uma parada cardíaca enquanto dirigia. 32 anos, a minha idade. Escrevo por extenso para a idade parecer mais longa: trinta e dois anos. Adri largou tudo para acompanhá-lo no último mês em Florianópolis, arrumou emprego por lá, se transferiu para ficar perto dele. Não sei se acredito em profecia, porém ela teve. Acompanhava Leandro na hora do acidente. Não sei quais foram suas últimas palavras, as últimas palavras não importam, eu pensava que importavam até hoje, porém não importam, sinceramente o que vale é o que não foi dito e que a Adriana compreendeu. Adriana, no meio da loucura do luto, chegou a dizer com uma serenidade que só o amor prepara: \”ele morreu feliz, o mês que passamos juntos foi um dos mais felizes, não morreu sozinho\”. Ela me abraçou com tanta dor, que volto a chorar ao afrouxar o abraço. Não havia osso em meu rosto. Não havia algo que possa depois suavizar na forma de cipreste ou figueira. Havia um fogo rude, querendo apenas deixar sua cinza, carvão, pedra de vento, asa calada de pedra. O pássaro não é somente sua asa. Uma comoção sem fôlego para responder, sem parentes nas árvores. Corpos prensados, bem antes do nascimento da água. Casulo trincado em brasas. O que ela me abraçou ficou ali. Ela abraçou sua dor, eu não existia. Ela atravessou sua dor, eu não a percorri. Ela deve ter recolhido os sapatos dele na estrada, reunido as roupas, para não deixar nada fora de sua morte. O pulmão dela deve ter trocado de turno com o coração. Quando entrou na sala do velório, com aquelas lâmpadas e coroa de flores, aquele lustre que não correspondia ao despojamento do resto, ela gritou sem adjetivos. Um grito agudo, intransponível. Fiquei de fora naquele momento. Entrei no grito dela. E comecei a pensar sem querer pensar o que eu faria em seu lugar. E não consegui. Não interrompi as calhas, não espremi as frutas. Fracassei em chegar onde o homem não há. Eu não consegui te acompanhar, Adriana, desculpa, eu não consegui chegar em tua dor ao menos para alfabetizá-la. É como se a poesia fosse lenta demais. E não entendi Deus ou o seu sentido de dar o que nem queremos, de tirar o que nem sabíamos que tínhamos. O grito dela virou um ouvido. Um ouvido. E o pai do Leandro e a mãe do Leandro, à beira do leito, não reconheceram o filho, que sempre andava de bonés, de bermudas folgadas, com um figurino praiano, solto, jovem. E velaram o corpo do seu filho, os lábios secos e pálidos, a falta maior do que a falta, como se fosse o corpo do melhor amigo do filho. O Leandro no caixão não era o Leandro, tão pequeno, encolhido, sem o peso de suas braçadas pelo ar, sem a arrogância do sopro, sem a generosidade do sopro. A morte nos devolve a estranheza. Eu desejei embalá-lo no colo para acordá-lo do medo. Vou coletando suas frases, com receio de alterá-las, marisco guardando o mar com os cuidados de quem segura as antenas de um inseto. Deixo uma cama desocupada em mim, um armário desocupado em mim, um riso que não vai conseguir ultrapassar a outra metade que a dor ocupou. É meu primeiro dia sem o Leandro. O primeiro dia do mundo sem o Leandro.

A Adriana me contou que eles estavam ouvindo o CD da Blanched que eu dei de presente para eles quando ele teve o ataque cardíaco. E a primeira música do CD se chama justamente \”Tristes dos que procuram respostas dentro de si porque lá só há espera\”. Eu procuro respostas para o fato do Leandro ir tão cedo e não sei onde procurar elas Fabro. Não sei.

Repeat forever

Quem diria que no dia de hoje eu ia encontrar conforto em Mike Patton? Vou ter que conseguir esse disco para mim de qualquer maneira… Ah, claro: a quarta faixa, L\’absent, eu posso jurar que já ouvi aquela melodia em algum lugar. Sei lá porque, mas algo me diz que aquilo lá é do Roberto Carlos.

Má, vá lá. Tenho que ouvir esse disco inteiro uma hora. E valeu pela dica involuntária caro amigo gorduroso. Tu não sabe o quão importante foi esse teu link.

The Infinite Sadness

ClickRBS: Sobe para 19 o número de mortos em acidentes no feriadão

Uma capotagem no km 87 da freeway, no entroncamento com a BR-116, em Porto Alegre, provocou a morte do motorista de um Fiat Uno identificado como Leandro Mohr. Sua esposa, que estava junto no carro e nada sofreu, relatou que ele teria perdido o controle do carro após passar mal.

Sim, o Leandro, marido da Adriana. Meu parceiro. Meu chapa. Meu companheiro de sinuca nas tardes de sábado.

O cara com quem eu falava bobagens por horas a fio na boa. O amigo que estava distante estudando em Florianópolis e estava feliz, morando num lugar que ele adorava. O cara que eu considerava um dos mais legais que eu conhecia e que eu tinha como um irmão. Não, por favor, não me perguntem se eu estou bem. Não hoje. 🙁

E agora com licença, que vou dar uma força para a Adriana lá no velório. Para os que conheciam o Leandro é o seguinte: ele está sendo velado no cemitério ecumênico de São Leopoldo (aquele junto da Unisinos, praticamente do lado do Polo de Informática) e o enterro é às 18 horas de hoje.

Coisa bizarra

E eis que procurando por um arquivo do The lion sleeps tonight eu encontrei uma versão em alemão. Triste… Mas isso não é nada! Pior é a versão \”cantada\” por um programa de dicionário. Isso sim é medonho. Pior que não foi apenas o The Lion que foi \”cantado\” não…

Mas enfim, para aqueles que não conhecem a música que estou falando, o jeito é ir aqui.

Ee-e-e-um-um-a-weh
Wemoweh, wemoweh, wemoweh, wemoweh (2X)
Ee-e-e-um-um-a-weh
Wemoweh, wemoweh, wemoweh, wemoweh (2X)

I\’m proud to say: \”I\’m Iranian !\”

\"\" Hey
I am not a terrorist nor a wife beater,
I don\’t live in a tent in a desert
And I don\’t know who Ali or Hossein were,
Although I\’m certain they never drove a BMW nor lived in orange county!

I speak Farsi, not Arabic
Iran is pronounced \”EERAUN\” and not \”I – ran\” (it\’s not track & field)

News flash: Iran and Iraq are two different countries ,
Middle east is a region and NOT a continent,
And camels are not our way of transportation.

Belly dancers are NOT strippers (no sex in the Champaign room); anyways
belly dancing is an arabic dance, it never came from Iran.

Each time you play a game of chess to improve your intellect, keep in
mind that it was Persians who gave you your game.

Iranian women are just as outspoken (if not more) and liberal as the
European women,
And what the hell is \”soccer\”?? We also call it Football.

Iran is the first country on earth to have a lion(male)and a
sun(female)for it\’s symbol; and the colors red, white, and green for a flag,
A beautiful country ran by the wrong people
But still the best part of Middle East

Allow me to introduce myself:

I\’M A PERSIAN. MY LAND IS IRAN!

Thank you

Como falaram numa lista de discussão: enfim um spam legal no Orkut.