O que realmente importa

Há certas coisas que volta e meia devem ser lembradas, e, entre essas, está um fato: não importa o que eu tenho ou conheço mas sim quem eu sou. É realmente importante lembrar disso, visto que muitas vezes as pessoas se baseiam no que as pessoas tem ou conhecem para dizer quem é a pessoa, e isso é errado.

Ter algo não diz respeito a quem a pessoa é. Ela pode até se iludir pensando que por ter uma casa, ou um carro, ou uma jóia, ou um iPod, ou qualquer outra coisa, ela é diferente da pessoa que era antes. Não, ela continua sendo a mesma, sem tirar nem por. Ter algo pode ser fruto da dedicação ou da sorte, e diz mais respeito a esses dois fatores do que a definição de nossa personalidade.

Já conhecer é questão de interesse e dedicação, e mostra que a pessoa que procura se informar é no mínimo curiosa. Mas, ao contrário do que se pensa, conhecimento não diz respeito à sabedoria. Sim, há pessoas que diante de determinada informação acordam para determinados fatos e com isso crescem, mas na grande parte das vezes o que se vê é gente de grande conhecimento agirem de forma realmente estúpida. Eu pessoalmente cansei de ver doutores viajados, que dominam quinhentas línguas, agirem de forma arrogante. Conhecimento não é sabedoria. Sabedoria é reflexão e empatia.

E ser, o que é? O que nos define como pessoas? Ainda não sei direito, mas a cada dia que passa fica mais claro para mim que a resposta não está no que eu tenho nem no que eu conheço, mas sim na forma como eu ajo em todos os momentos.

Já comi

Ontem no Sarau Elétrico foi oferecido o novo livro da Cláudia Tajes para quem contasse alguma história sobre um velho safado. Ninguém foi. Como o nome do livro é Por isso eu sou vingativa, foi ofertado então o livro para quem contasse uma história sobre vingança. De novo ninguém foi. Aí ficou aquele impasse até que um baixinha loira foi lá e contou uma historinha de velho safado. Eu até tentei da minha parte lembrar de uma história sobre um dos assuntos, mas nada. Fui só lembrar mais tarde, quando já estava indo para casa, o que é uma pena… Enfim, para não esquecer mais, creio que vale a pena contar aqui, já que mistura velhos tarados E vingança:

Em Taquara havia um ponto no centro, ali na esquina da Júlio de Castilhos com a Rio Branco, onde os aposentados da cidade se encontravam para falar besteira. Era o tradicional “Já comi”, em homenagem à frase mais proferida pelos velhinhos que lá ficavam. Não podia passar um rabo de saia que fosse que invariavelmente um dos velhos safados se manifestava, expondo que em um momento passado houve momentos de desbunde e esbaldo com a rapariga. E isso era com todas as mulheres que passavam, não importando idade, cor, nada.

Bem, eu não testemunhei o ocorrido, mas sim um amigo, que me contou que um belo dia estava ele perto do grupo quando viu uma garota bem nova passando, sendo seguida do tradicional bordão. Nesse momento uma mulher que estava passando por perto saiu a desancar o grupo, chamando a todos de idiotas, que aquilo era uma pouca vergonha, que eles não podiam sair manchando a reputação das pessoas assim, que aquela guria até na igreja ia e por aí vai. Literalmente meteu a boca no pessoal. Então, no que ela foi embora, saiu o seguinte diálogo:

– Mas o que deu nessa mulher? – perguntou um, no que outro retrucou:

– Pois é, culpa minha…

– Como assim?

– É que já comi… – e completando com maldade na voz, lascou – E mal.

Mais um herói que se vai

Esse mês de outubro de 2011 está danado… Primeiro foi o Steve Jobs que se foi, agora o Dennis Richie. Se o Jobs ajudou a popularizar a informática, o dmr foi o cara que praticamente criou a base da informática como a conhecemos hoje. Ele foi, entre outras coisas, co-autor de duas coisinhas: o Unix e a linguagem C. Sobre o Unix é incrível ver como um sistema criado em 1969 resiste ao tempo e ainda se mostra como uma das melhores soluções já criadas, seja na sua forma “pura” seja através de seus clones e derivados (Linux / MacOS X). E no que diz respeito ao C nem há o que comentar: praticamente TUDO é feito em C, seja de forma direta, seja através de compiladores para outras linguagens que são feitos em C. São raras as implementações de linguagens onde o compilador ou o interpretador não são feitas em C ou em C++ (que é derivado do C).

É, não é todo mundo que pode chegar e dizer “esse troço aí funciona porque muito do que eu criei serve de base para ele”, e o dmr era uma dessas pessoas, com a característica de que ele era um cara humilde, que dizia que se não fosse ele seria outro que teria criado tudo o que ele criou. Uma pessoa rara, sem dúvida.

1955-2011

Toda revolução tem que ter alguém para dar o primeiro passo. E a revolução do computador como ferramenta acessível para a grande maioria das pessoas veio de Steve Jobs. Isso é um fato. Se ele pegou a idéia dos outros (no caso dos pesquisadores do Xerox PARC) e botou numa embalagem bonita para vender não interessa, o fato é que ele teve a coragem de fazer isso e, dessa maneira, ele recriou o mercado de computadores pessoais, mercado que ele ajudou a criar quando, 10 anos antes, ele passou vender micro-computadores pessoais já montados. Sim, antes computadores pessoais eram kits que tinham que ser soldados pelos compradores.

Eu devo a muitas pessoas o fato de ter me tornado um profissional da área de informática, muitas mesmo. Foi por conta do trabalho delas que hoje eu tenho aqui na minha frente uma das mais poderosas ferramentas já criadas pela humanidade. Não, não estou exagerando! É só parar e olhar o que era o mundo a 40 anos atrás para ver como os computadores mudaram esse planeta. E não foram computadores imensos, monolíticos, como os pensados por Asimov e Clarke que fizeram a mudança, mas sim computadores de todos os tamanhos, se comunicando entre si. E boa parte desses computadores seguiam um preceito: serem ferramentas para pessoas comuns, não para engenheiros. Preceito esse ditado por uma pessoa em especial, e que foi mais que copiado por seus concorrentes.

E é aí, nesse ponto, que digo que hoje morreu um dos meus heróis. Ele não foi o melhor programador do mundo (até porque ele não era), não foi o melhor designer do mundo (até porque ele não era), ele não foi o melhor engenheiro do mundo (até porque ele não era). Ele foi tão somente a pessoa que se cercou de algum dos melhores programadores, designers e engenheiros e deu a eles uma visão de um produto que podia mudar a vida das pessoas. E assim o fez.

Obrigado mais uma vez Steve. Muito obrigado mesmo. Descanse em paz.

Você não! Doutor!

Certa vez, na época que as matrículas na Unisinos eram presenciais, ocorreu o seguinte diálogo:
Atendente: – Olá, que disciplinas você deseja?
Aluno: – Você não! Doutor!
O atendente olhou pro aluno, olhou para a ficha dele e viu que era um formando em Direito. Ele então botou a planilha de lado e perguntou:
– Doutor? Por favor, qual foi a tese que o senhor desenvolveu?
O aluno engasgou, gaguejou e o atendente só puxou a planilha de volta e mais uma vez disse:
– Olá, que disciplinas você deseja?

Pois bem, o atendente estava mais do que certo.

Rumos

Há meses a Taila fica falando que eu deveria fazer aulas de canto e aprender um instrumento… Confesso que depois da crise de insônia de hoje, vendo no Youtube um monte de gente tocando e cantando naquele clima meio cabaret, fiquei com vontade de investir nisso. Então, se eu já estava pensando em reduzir o número de cadeiras lá do curso de Administração Pública (afinal estou fazendo o curso por hobby, não para ficar me estressando com um provável diploma) o negócio é comprar meu piano elétrico (retomando as aulas paradas aos 9 anos de idade) e estudar. Na pior das hipóteses vou parar de deixar meus amigos angustiados quando me ponho a cantar…

E se eu tenho voz aguda (quando eu na verdade gostaria de cantar como o Nick Cave ou o Tom Waits) fazer o quê? O negócio é explorar como faz o Filipe Catto.

Uma porta de cada vez

Entre os vários gêneros de filmes produzidos nos Estados Unidos há um que é conhecido, de forma pejorativa, como “doença da semana”. É um tipo de filme que, normalmente, é produzido para a televisão, sem muito orçamento, contendo a história de uma pessoa que luta contra uma doença qualquer, ou que se recupera de um acidente. Muitos desses filmes são descartáveis, na melhor das hipóteses, não apresentando nada que leve alguém a assistir tal filme a não ser o desejo de ver uma história de superação. São raros os filmes do tipo que se destacam e saiam da raia comum da mediocridade.

E Temple Grandin, filme de 2010 produzido pela HBO Films para o canal HBO, é um desses raros filmes. Conta a história de Grandin, uma americana que aos 4 anos de idade é diagnosticada como autista, acompanhando seu desenvolvimento da infância até a vida adulta, quando consegue se formar em psicologia. Mostra ainda a sua luta contra o preconceito que enfrentou no início do seu trabalho como zootécnica, quando desenvolveu os primeiros currais circulares que respeitam o nome de pensar do gado e que, por conta disso, tornam a lide menos traumática para o animal. E assim, “abrindo uma porta de cada vez” (como costumava dizer o professor de ciências de Grandin), ela vai conquistando o seu espaço e ajudando a desmistificar a sua doença junto à sociedade.

E o que faz com que esse filme fuja do sentimentalismo e se destaque? A resposta está em Claire Danes, que até esse filme era mais conhecida por fazer o papel de Julieta na modernização Romeo + Juliet (1996), onde contracenou com Leonardo DiCaprio. Sua interpretação de Grandin é primorosa, no mesmo nível do Raymond Babbitt interpretado por Dustin Hoffman em Rain Man (1988), e recebeu merecidamente vários prêmios, incluindo o Emmy e o Globo de Ouro de melhor atriz. Ela consegue encarar de forma convincente um personagem cheio de tiques e maneirismos e que, nas mãos de um artista menos capacitado, poderia ser retratado de forma caricata. Um excelente trabalho, que merece ser conferido.

Dura lex sed lex

Semanalmente eu devo escrever um texto qualquer para a disciplina de Produção de Texto e ontem resolvi escrever algo que sinto que meus amigos que participam do Massa Crítica não vão gostar muito…

Dura lex sed lex

O habeas corpus, da expressão latina “Habeas corpus ad subjiciendum” (que pode ser traduzido como “Que tenhas o teu corpo”), é uma garantia constitucional que tem por finalidade evitar a coação à liberdade de locomoção decorrente de abuso de poder ou ilegalidade. Ele pode ser liberatório, destinado a afastar constrangimento ilegal à liberdade de locomoção já existente, ou preventivo, concedido diante de uma ameaça à liberdade de locomoção. A Constituição Federal garante a qualquer pessoa o direito de impetrar o habeas corpus em seu favor ou de terceiro, bem como pelo Ministério Público, não sendo necessária a representação por advogado nem tampouco de folha específica. Ainda que preso por “justa causa”, isto é, em flagrante delito ou de cumprimento de ordem judicial, é direito de todo cidadão responder o processo em liberdade.

Muitas vezes a concessão de habeas corpus é motivo de polêmica. Por exemplo, em 8 de abril de 2011 o desembargador Odone Sanguiné concedeu habeas corpus a Ricardo Neis, o funcionário público que em 25 de fevereiro jogou seu carro contra ciclistas que trafegavam pelas ruas de Porto Alegre e que, por conta do seu ato, responde por 17 tentativas de homicídio triplamente qualificadas. Sanguiné argumentou que não há qualquer indicação concreta de que Neis, se mantido em liberdade, ameaçaria testemunhas ou vítimas ou que destruísse provas, de modo que mantê-lo preso equivaleria à antecipação de pena e violaria os princípios de presunção da inocência e da imparcialidade do julgador. Tal argumento não foi aceito pelas vítimas, que se organizaram e fizeram no dia 11 de abril uma manifestação em frente ao Palácio da Justiça, no centro da capital gaúcha. Não faltaram durante o ato acusações de influência política e econômica, e se clamou por justiça.

Contudo, a justiça foi feita. Por pior que tenha sido o delito de Ricardo Neis ele, como cidadão, tem direito ao habeas corpus. Mesmo que isso cause indignação nas vítimas e nos familiares e amigos destas, a Justiça não pode retirar o direito de uma pessoa, principalmente um direito garantido na Constituição. Caso a Justiça o fizesse ela estaria abrindo um precedente perigoso, onde ficaria valendo quem grita mais, e não o que está escrito. Pode-se contestar o que está na lei, mas isso se faz através do processo democrático, não através de protestos e manifestações. É triste dizer isso para as vítimas, mas a lei pode ser dura mas é a lei, e é respeitando ela que se pode esperar ver o acusado respondendo por seu crime de forma legalmente correta.

Bem, que venham as pedradas

10 anos hoje

E eis que esse blog completa hoje 10 anos. São 10 anos onde esse blog passou por textos quase diários, por projetos paralelos, pelo quase abandono do blog e troca pelo Twitter e por aí vai… Foram 10 anos em que fiz muitas amizades, em que me diverti muito, em que cresci profissionalmente e onde conheci a pessoa mais doce da minha vida. Foram 10 bons anos, e torço para que os próximos 10 sejam tão bons quanto. 🙂