Então, 50 anos essa manhã.

Cópia atualizada da minha certidão de nascimento. Pena eu não ter a original por perto para dar um ar mais vintage.

Dizem as lendas da família que eu fui natimorto. Enforcado pelo cordão umbilical. Tive que passar por uma reanimação antes de finalmente respirar e começar a berrar. Certa vez comentando sobre isso quando eu já tinha mais de 20 anos o meu pai disse brincando “ainda estamos observando se teve seqüelas”.

E é isso que sou: seqüelado. Testes de QI dizem que sou inteligente mas vivo fazendo coisas idiotas. Maturidade? Ainda pretendo ter um dia. Estabilidade financeira? Pensei finalmente ter alcançado mas não tenho mais certezas. É interessante ver que eu estou na idade que quando eu era jovem achava que todos os problemas já tinham sido resolvidos. Hoje vejo que na verdade ainda estou na metade do caminho (em alguns casos não cheguei nem em um terço ainda).

O bom dessa jornada é que sempre andei perto de pessoas maravilhosas. Não vou nomear elas por que faltaria espaço, mas elas sabem. Algumas dessas pessoas maravilhosas se afastaram pelo tempo, ou pela distância, ou por que já se foram, ou por rateadas minhas, mas carrego elas no meu coração. Afinal é isso que é a vida né? Colecionar encontros e desencontros. Agradeço e digo “Muito Obrigado!” a todos que participam ou participaram dessa minha jornada até aqui. Esse é o grande presente que a vida dá.

E espero ano que vem retomar o meu antigo hábito: festa insana no dia 20, aproveitando o feriado do dia 21 (principal motivo para não sair do Brasil) para tratar a ressaca! Xô coronga do capeta!

Vinte anos essa tarde

Em 1996 eu estava estava trabalhando como webmaster e dando aulas de informática na TCA Informática quando fui dar aula para uma turma de crianças. Aí, quando fui mostrar para a criançada como se fazia buscas na Internet (afinal “na Internet tem sobre tudo”) uma das crianças pediu por Mamonas Assassinas. Aí fui procurar em tudo que era ferramenta de busca da época (eram tempos pré-Google) e nada. Foi ai que a criançada ficou rindo da minha cara, a ponto de soltar uma ironia:

– Mas não tem de tudo na Internet?

Pois é, isso acabou rendendo e para evitar de passar vergonha de novo eis que no dia 13/02 foi pro ar a primeira página sobre os Mamonas na Internet, feito por esse que vos tecla. Na verdade era um site feito com todo o conteúdo que eu consegui encontrar sobre a banda nas bancas de Taquara. Eu já tinha visto eles na TV, achava as músicas engraçadas mas nunca tinha corrido atrás.

E então em menos de um mês eis que acordo no domingo depois do almoço (afinal a noitada de sábado foi boa) e o meu pai mostra na TV: “os Mamonas morreram”. Aí o negócio foi pegar minha bicicleta, atravessar metade de Taquara e mudar a capa do site para uma mamona chorando sobre um fundo preto.

Nunca fiz um printscreen dessa capa. Chegou a sair em uma revista mas eu mesmo não tenho essa imagem. E até mesmo os originais do site eu consegui perder num HD que baleou. De qualquer maneira existe o Wayback Machine do WebArchive que permitiu que eu recuperasse a página e pudesse prestar esse pequeno tributo ao dia em que eles se foram, há exatos 20 anos.

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Tudo na vida tem uma hora que chega…

Quando eu era criança eu achava que era adotado. Sim, afinal meu pai usava óculos,minha mãe usava óculos, minha irmã usava óculos, todo mundo em casa usava óculos menos eu! Como? Assim, eu ficava olhando eles com suas lentes e armações e ficava me perguntando se eu realmente fazia parte daquela família.

E aí o tempo passa, a gente cresce, vê que aquele sentimento é uma grande bobagem e dá graças a Deus por ter a vista perfeita. Tão perfeita que consegue ler a distâncias enormes, quase um gavião. Mas tem um detalhe: esse mesmo tempo que nos faz perceber como nosso corpo funciona é o tempo que faz com que nosso corpo deteriore. Essa decadência pode ser lenta, pode ser longa, mas um dia chega.

E aí, os olhos cansam, coisas que estão ali pertinho, letras pequenas, etc ficam borradas, e você vai forçando a vista e quando vê as coisas que estão longe também ficam borradas. Aí não tem mais jeito, você é obrigado a entrar na família dos 4 olhos. Ou, no meu caso, na família Pilger de vez.

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( E óculos multifocal é uma viagem de ácido! Que coisa mais estranha… Caminhei sobre ovos hoje na rua. )

A verdadeira vergonha

Pessoal, vamos lembrar do que o B-Negão disse, de que devemos “priorizar as prioridades, cumpadi”.

Assim, o que aconteceu de realmente vergonhoso em Minas Gerais não foi derrota de goleada do Brasil para a Alemanha. Não foi isso. O que foi vergonhoso mesmo, de querer sumir do mapa, foi ver um viaduto super faturado que caiu sobre a população. Afinal, o que falhou no campo de futebol foi um time de jogadores de futebol, agora o que falhou no caso do viaduto foi algo muito, mas muito maior.

Falhou o político, o administrador público, o engenheiro, o contador, o mestre de obras, todo o pessoal que trabalhou na construção do viaduto e os responsáveis pela fiscalização das obras, formando assim uma amostra muito mais completa da população brasileiro. Essa é a pior vergonha, a de ver que no Brasil um esforço coletivo sucumbe em função da ganância, do lucro, dos dividendos políticos. Voltando ao B-Negão: “O nosso maior inimigo somos nós mesmos”.

Isso sim é de se ter vergonha. No mais um jogo é só um jogo, não mata ninguém.

Revisando metas

Pois hoje recebi um email do site da Dieta Dukan dizendo que eu poderia recalcular meu peso. Levando em conta que quando eu fiz pela primeira vez eu chutei valores (como o meu peso médio como adulto, por exemplo), fui lá e refiz a conta. O resultado foi esse:

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Como se pode perceber, são 9 quilos a menos que o considerado ideal anteriormente:

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Sinceramente? Acho que essa meta tem muito mais sentido que a anterior, visto que com 87,3 eu ficaria com um IMC de 29,9, que é o limite entre o sobrepeso e a obesidade. Com 78,9 kg eu fico com um IMC de 27,0. Ainda é sobrepeso, mas com uma boa distância da obesidade. E vale lembrar que já passei dos 40, de forma que nem em sonho vou ter um corpo de adolescente.

Então é isso: já se foram 27 kg desde dezembro do ano passado, e agora a meta é perder mais 25 kg até novembro. Como se pode ver pelo gráfico abaixo, até que a caminhada está indo bem…
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Só para constar…

Atualização de status: me pesei hoje e estou com 105,6 kg. Ou seja: desde o dia 09/12/13 já foram 25 quilos. 🙂

E o interessante é que com isso estou com o mesmo peso que eu tinha em 30/09/2001. O interessante é que na ocasião eu resolvi fazer uma dieta extremamente restritiva, que fez com que eu perdesse em 5 semanas 12 quilos. Bom, né? Não, não foi bom. Eu estava com alteração de humor, cansaço e outros problemas, além de que não aguentava mais as restrições alimentares. Assim, quando entrei em depressão por conta do fim de um relacionamento, rapidinho recuperei tudo além de ganhar um pouco mais.

Bem, não digo que estou imune ao efeito-sanfona, mas o caso é que dessa vez não estou me restringindo. Confesso que há algo de magia negra no fato de eu ir a uma churrascaria, me empanturrar de carne e no dia seguinte ao me pesar ver que me mantenho com o mesmo peso (isso quando não perco peso). Não tenho passado nada de fome, tenho feito quebras nas dieta que não a comprometem e que acabam com aquela ansiedade que eu já vivi em n dietas. Fico olhando o histórico aqui do blog na época que fiz a minha dieta mais radical e fico pensando em como eu conseguia me manter em pé. Muito, mas muito absurdo.

Picaretagem pouca é bobagem

Há dias tenho recebido ligações do número 021 980500034. No que eu atendia a ligação caia. Bem, agora a pouco atendi e ouvi uma atendente se identificando como sendo da TIM, dizendo que precisava repassar uma informação e que para isso era necessário confirmar alguns dados (no caso nome completo e data de nascimento). Eu me recusei a passar esses dados, e pedi uma prova de que era realmente a TIM me ligando. A atendente se ofereceu para repassar os 3 primeiros números do meu CPF e eu respondi que isso não era uma prova de que o número que estava ligando era da TIM. Ela então me repassou o número 0800 8882373, dizendo que ali eu poderia confirmar que a ligação era da operadora. Disse que preferia receber um email da TIM confirmando, mas ela respondeu que isto estava fora do procedimento padrão e que, caso fosse verificado que não houve ligação para o número em questão eles retornariam as ligações. Assim, liguei então para o número em questão e fui atendido por um sistema automático, que pediu para que eu entrasse com o meu CPF para poder iniciar o atendimento.

Foi nessa hora que eu desliguei e liguei para o *144, número que consta da página da TIM como sendo o número oficial de contato. Ali, conversando com a atendente, que não pediu nome completo, CPF, nada do gênero, verifiquei com a atendente que os números em questão não tem ligação com a TIM. Pois é…

Agora, o que me chama a atenção é que eles tinham dados como nome completo, data de nascimento e CPF. Isso associado ao número do meu telefone. Como assim? Onde esse povo obtém esses dados? De qualquer maneira fica a dica: se alguém ligar para você e pedir para confirmar dados se recuse. Peça para quem está ligando um modo de confirmar que realmente é quem diz e aí acesse o site da empresa para ver pelos canais oficiais de comunicação se esse meio de confirmação é quente. Você vai perder um pouco de tempo com isso? Vai, mas pelo menos ajuda a atrapalhar o golpe desses picaretas.

É tudo divino e maravilhoso

Cheguei hoje a um peso inferior a 117 kg. Com isso o meu IMC está menor que 40, de forma que digo mais uma vez “Adeus obesidade mórbida!”. E espero que dessa vez o adeus seja definitivo.

Há questão de 2 anos e meio já tinha falado isso, antes de ir para Brasília. Contudo uma série de fatores fez com que eu, após voltar de lá, não só acabasse engordando novamente até os 120 quilos “perdidos” (por favor, não venham com neurolinguística para cima de mim dizendo que não “se deve dizer que o peso foi perdido, pois o que foi perdido queremos recuperar”; quem nunca passou por um regime não tem idéia de quão chato é ouvir esse discurso…) como acabasse chegando na marca absurda de 130 quilos que eu estava no começo de dezembro!

Assim, lá vou eu para a próxima meta, que é sair da obesidade severa. Pela minha altura (1m71) isso vai ocorrer quando eu chegar nos 102 quilos. Então vamos lá, levando na bagagem a lição aprendida em 2013: que eu tenho que estar atento e forte.

Que puxa…

Há 3 semanas tive uma derrota moral: tive que ir comprar roupas em uma loja para tamanhos especiais. Sim, roupas para quem está muito, mas muito gordo, gordo de uma forma que nunca estive antes. Gordo a ponto de temer pela própria vida e lembrar o que eu escrevi isso no primeiro post desse blog em 2001:

Que fique anotado: estou com 1m71 e 96kg e essa situação tem que mudar. Estou praticamente entrando na casa dos 30 e até hoje não me preocupei em tornar-me uma pessoa mais saudável.

Isso foi há 12 anos, e o que aconteceu de lá para cá? Mantive minha altura, mas em compensação consegui ultrapassar os 130 kgs. Sim, em vez de ter perdido aquele excedente de 16 quilos que eu tinha para a minha altura na época o que eu fiz foi engordar  de forma absurda. Como isso?

Não é fácil responder. É meio que uma mistura de relaxamento da minha parte, stress por conta das pressões do meu trabalho, médicos onde não pude continuar com o tratamento por problemas financeiros, depressão, médicos que me receitaram remédios errados (em vez de perder gordura perdi massa muscular magra) e por aí vai. Não é uma resposta simples, mas de qualquer maneira sinaliza um fato: para mim os anos 00 foram divertidos, mas não deveriam ter sido divertidos na mesa.

E agora? O que fazer? Depois de comprar aquelas roupas me senti elegante, porém com aquela sensação de que eu estava tapando o sol com uma peneira. Eu não deveria me sentir elegante, eu estou longe de estar elegante, eu estou na verdade em uma condição perigosa que não afeta só o meu visual mas sobretudo a minha saúde, eu tenho que fazer alguma coisa para mudar isso.

E resolvi fazer algo. Já consultei vários médicos, já recebi dietas e mais dietas (acompanhadas ou não de remédios) e me recuso a uma medida extrema do tipo tirar uma parte do meu estômago. Assim, seguindo a sugestão de conhecidos, resolvi aproveitar o fato de que não gosto muito de massas e congêneres e resolvi adotar uma dieta low-carb, no caso a Dieta Dukan. E por que justo essa? Basicamente porque ela tem dois pontos que achei interessante:

  1. tirando uma fase inicial de poucos dias não busca emagrecer rapidamente, mas sim ser um processo constante até chegar no peso ideal;
  2. uma vez chegado no peso ideal ele não acaba, mas prossegue até a consolidação desse peso, evitando assim o efeito sanfona.

Além disso, há outros aspectos que eu gosto, tipo não ser muito tolerante com gorduras (como é o caso da dieta paleolítica) e não restringir a quantidade de alimentos.

Então, decidida a dieta, calculei qual seria o meu peso ideal (87 kg, o que daria um IMC acima do peso), o tempo que levaria para chegar até ele e o resultado foi esse:

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Sim, 731 dias. Olhei para isso e nada me restou a fazer do que dar um suspiro e dizer “é, não tem jeito…”. Afinal, se eu não levar em conta o período de consolidação o que vai acontecer é o que aconteceu nesses 12 anos de dietas recomeçadas: o efeito sanfona vai ser mais forte e meses após algum regime vou constatar que estou mais gordo do que antes.

E agora é dia 17/12. Já passei pela fase de ataque, onde fui de 130 para 125,6 quilos e já estou na fase de cruzeiro. Tenho uma caminhada longa pela frente, e os primeiros passos já foram dados.

Cinco discos da minha vida

Esse post teve origem na Poplist, onde os membros da lista estão postando, cada um, os cinco discos mais representativos na sua vida. Bem, comemorando então meu aniversário de 41 anos, que foi comemorado ontem, eis a minha lista… 🙂

Tenho uma relação estranha com discos. Volta e meia eu adoto um como trilha sonora dO momento, sem necessariamente ser a trilha sonora dE momentos. Assim, quando eu olho para trás vejo que tive períodos na minha vida em que eu estava feliz e a trilha sonora era de cortar os pulsos, enquanto vivi momentos tristes onde ouvia sem parar músicas alegres. Assim, quando fui fazer a lista fiquei na dúvida se deveria privilegiar discos que me marcaram musicalmente ou se deveria ficar com os que representaram um período da minha vida. Resolvi fazer uma lista híbrida, o que fez com que alguns dos meus discos preferidos ficassem de fora. Assim, Björk acabou não entrando na lista assim como Nick Cave e Arcade Fire, mas isso não quer dizer que os discos deles não sejam menos importantes na minha vida. Só que senti que deveria contar sobre esses discos aqui:

Nova História da Música Popular Brasileira – João Bosco e Aldir Blanc

Na segunda metade da década de 70 a editora Abril lançou a série Nova História da Música Popular Brasileira. Cada volume continha a biografia de um ou mais artistas, ilustrado com belos desenhos feitos por Elifas Andreato, e um disco de 10 polegadas, que além das principais músicas ainda haviam peças não tão conhecidas mas que mereciam destaque. O meu pai costumava comprar os volumes dessa coleção e eu costumava passar, lá pelos meus 9, 10 anos, horas e horas ouvindo os discos e lendo sobre os artistas. A parte que eu mais gostava de ler era a primeira contracapa, onde ficava uma breve nota sobre cada música, explicando quando tinha sido a gravação, com quem e porque ela tinha relevância. Foi por essa coleção que eu conheci Caetano, Vinícius, Gilberto Gil, Mutantes, Raul Seixas, Cartola, Luiz Gonzaga, Novos Baianos, Hermeto Pascoal, Milton Nascimento, Candeia, entre outros, além de ter contato com a música caipira de raiz, os precursores da Bossa Nova e a valsa brasileira do século XIX. Uma verdadeira escola de música. E esse volume sobre a dupla João Bosco / Aldir Blanc podia não ser o melhor de todos, mas era um dos que eu mais gostava, não só pelo fato das músicas serem mais “agitadas” e “divertidas” (afinal eu era uma criança) como “De frente pro crime”, mas também por conter canções como a belíssima “Casa à raposa”, interpretada pela Elis Regina, assim como aquela que deve ser a melhor estreia de um artista na história da MPB: “Agnus sei”.

Destaques: Agnus sei, com João Bosco e Caça à raposa, com Elis Regina.

Lee Jeans presents Lee Original Country Music

Esse foi o meu primeiro disco. Simples assim. Eu devia ter uns 11 anos quando a Lee resolveu lançar essa coletânea de música country que tinha como destaque na propaganda a música The Baron, do Johnny Cash. Até então eu gostava de música e tudo mas nunca tinha insistido junto aos meus pais para ter um disco. E assim eu fiquei um bom tempo pentelhando eles até que lá fomos nós comprar um jeans Lee para poder ganhar o disco. Lembro que na hora de comprar as calças eu só vi se eles serviam bem no corpo (nessa época eu já era gordinho) e nem prestei atenção se ela era bonita ou não, e que quando cheguei em casa fui direto ouvir O MEU DISCO e fiquei várias e várias vezes ouvindo a primeira música (justo a do Johnny Cash) a ponto de gastar a faixa. Das outras músicas eu nem lembro muita coisa, já que country é um ritmo que nunca me fisgou, com exceção daquela primeira faixa lá.

Destaques: The Baron, do Johnny Cash e Deep inside my heart, do Randy Meisner

Talking Heads – Fear of Music

Na metade dos anos 80 eu morava em Taquara/RS, que fica a uns bons 70 kms de Porto Alegre. A distância pode ser pequena, mas era suficiente para a cidade ser “do interior” (hoje ela faz parte da região metropolitana, mas nem por isso deixou de ser interiorana), com as suas consequências do tipo lojas de disco com poucas coisas diferentes dos top 10 das paradas. E, além das poucas ofertas, ainda havia a questão do preço, de forma que comprar um vinil não era tão simples. Bem, felizmente houve um período na história da cidade em que comprar disco não foi uma sangria: foi em 1986 durante o Plano Cruzado, onde com os preços congelados e sem ágio (ao contrário da comida) foi possível comprar discos a rodo. Foi nessa época que comprei vários discos, indo por Legião Urbana, Capital Inicial, Engenheiros do Hawai, e por aí vai. Como se pode perceber era principalmente rock nacional. E a maior parte dos discos foi comprado não em loja de disco, mas sim nas Lojas Colombo, que vendia eletrodomésticos. Explico: junto da sessão de equipamentos de som havia uma estante de discos, que serviam para “acompanhar” o aparelho recém vendido. Por vezes, dependendo do que era comprado o disco ia até de brinde, para o cliente já poder mostrar para a família a sua nova aquisição. Bem, eu não sei quem é que fazia a seleção de discos da Colombo, mas o caso é que sempre haviam uns discos meio estranhos ali, que fugiam daqueles que estavam no topo das paradas, e esses discos costumavam ser baratos, quase a metade do preço do LP em uma loja de discos normal. Bem, certo dia estava eu dando uma olhada ali naqueles LPs e vi um de uma banda chamada Talking Heads com uma capa totalmente maluca e com quatro pessoas usando roupas bizarras na contracapa chamado “Little Creatures”. Como não havia como ouvir os discos (quem comprava um aparelho de som podia) a compra era no escuro. Naquele caso resolvi arriscar (afinal parece que eu já havia lido alguma coisa sobre a banda na revista Bizz) e levei para casa. Cheguei, ouvi e gostei muito do disco. Gostei tanto que lembrei que havia outro disco da banda a venda na Colombo e fui correndo comprar antes que alguém levasse ele. Chego em casa todo feliz, ingenuamente do alto dos meus 15 anos esperando ouvir outra And she was, mesmo com a capa preta do disco já me avisando “não é bem o que tu tá esperando guri…”, quando sou arremessado contra a parede por I Zimbra. De repente sou apresentado a uma nova realidade, a um mundo completamente diferente, que foi ficando cada vez mais rico de detalhes à medida que o disco ia tocando. Eu ia ouvindo e ficando cada vez mais surpreso. Como é que podia haver algo assim tão pop e tão experimental (vale lembrar que na época eu já conhecia Hermeto Pascoal, Walter Franco, esses maluquetes da MPB) ao mesmo tempo? O que querem dizer esses ruídos de fundo? Como assim essa distorção aí é para dar ritmo à música? Como alguém conseguia fazer aquilo? Como é que ninguém me falou desse disco? Será que existem outros discos como esse? Onde eu encontro essa música? Quem mais faz esse tipo de música? EU TENHO QUE SABER ISSO! EU TENHO QUE CONHECER MAIS! EU TENHO! É, se eu tive um momento de iluminação na minha vida foi esse, e quando o disco fechou com “Drugs” eu não era mais a mesma pessoa.

Destaques: Mind e Drugs

Radiohead – Ok Computer

São Leopoldo, 1998. Nessa época eu levava uma vida muito besta: a grana no bolso era pouca e aos 27 anos eu vergonhosamente ainda recebia uma ajuda dos meus velhos para me manter; as opções de lazer eram poucas; eu não conhecia quase ninguém na cidade e as que eu conhecia não estavam lá muito melhores na vida do que eu; estava na época terminando a Unisinos, depois de quase 3 anos trancado, e aquelas últimas cadeiras estavam se arrastando, já que o assunto não me interessava e eu não conhecia nenhum dos meus colegas; e por aí vai. Era uma época em que eu ficava no MacBar esperando conhecer novas pessoas, já que os amigos que eu havia feito em 1994 já tinham se formado e voltado para as suas cidades. Para ajudar a minha vida sentimental também estava horrível, e essa foi uma fase em que eu realmente me senti sozinho. O que havia de bom é que eu na época morava numa república, e não mais numa pensão, de forma que eu não me encontrava tão sozinho assim, e acho que foi isso que me salvou de ficar com depressão na época.Outra coisa boa é que eu tinha saído novamente de Taquara, depois de ter voltado para a casa dos meus pais e ter morado lá durante um ano e meio. E foi nesse período que em um certo dia de outono eu cheguei com o Ok Computer em casa. Juro que não consigo me lembrar de onde e como eu comprei o disco. Lembro que foi uma compra às cegas, movido pela lembrança de comentários que diziam que aquele tinha sido considerado o melhor disco de 1997. Eu nunca tinha ouvido uma música que fosse do disco, não tinha a menor idéia de que banda era aquela, já que na época eu estava completamente alheio ao que estava acontecendo no mundo da música (a única coisa que eu acompanhava na época era o Pato Fu…) e desconhecia completamente o shoegaze (ok, eu conhecia e gostava de Jesus & Mary Chain, mas não acompanhava em nada do que eles estavam fazendo e as bandas que eles influenciaram), acreditando que o mundo tinha sido completamente dominado pelo grunge e pelo revival da disco music, onde a Björk apontava o caminho para o que havia de bom na época. Assim, quando vi o disco numa loja de discos resolvi arriscar e ver o que é que tinha ali. Lembro de chegar em casa, colocar o CD para tocar e eu me instalar no colchão no chão da sala que servia de sofá, só me guiando pela luz do poste em frente à janela. O tempo era levemente frio como convinha a uma noite de outono e não havia ninguém em casa além de mim. Eu nunca fui de prestar atenção em letra de música, para mim o casal voz e letra é mais um instrumento musical que qualquer outra coisa, e mesmo no meu inglês precário sem entender nada do que o Thom Yorke estava cantando eu conseguia saber do que ele estava falando, conseguia ver que ele descrevia perfeitamente aquela fase que eu estava vivendo, e consegui ver que mesmo na tristeza havia uma beleza enorme, que devia ser desfrutada. Foi uma noite estranha aquela, onde eu fiquei vários dias meio chapado com o impacto do que eu havia ouvido, e que acabaram por me tirar da apatia que eu estava.

Destaques: Subterranean Homesick Alien e Climbing Up the Walls

Viana Moog – Boemia Adolescente Após os 30

Há uma passagem em High Fidelity em que Laura, a namorada do Rob Fleming, está lendo uma lista dos empregos perfeitos que o Rob tinha feito. A opção que encabeçava a lista consistia em ser jornalista da NME Express entre 1976 e 1979, seguido por produtor da Atlantic Records entre 1964 e 1971. Basicamente as duas opções consistiam em ser o cara no emprego certo na época certa no local certo, convivendo com as pessoas certas. Você já imaginou frequentando as festas do CBGB? Pois então, se Nick Hornby morasse no Rio Grande do Sul nos anos 2000 certamente ele iria acabar escrevendo um livro sobre São Leopoldo. Não que a cidade possa ser comparada a Nova Iorque, mas o caso é que ali, no começo da década, é que havia coisas acontecendo, e em 2001 eu comecei a frequentar o BR-3, local onde praticamente tudo acontecia. E o que aconteceu naquele bar (e continuou ainda um pouco depois no Casarão) foi incrível. Várias bandas, zines (só eu participei de dois: O Apanhador e Gordurama), artistas plásticos, todos se encontrando e vivendo um vida intensa, uma TAZ, algo que fugia completamente do marasmo que estávamos mergulhados. E a banda que melhor sintetizava o espírito daquela época era a Viana Moog com a sua distorção, sua adoração a Humberto Efe e suas letras minimalistas. Os shows que eles faziam no BR-3 eram simplesmente incríveis, loucura espalhada em decibéis. E esse disco, mesmo com os vários problemas de gravação que ele tem e que acabam por esconder a força da banda, é o melhor registro do espírito dessa época. A época certa no local certo que eu vivi.

Destaques: Totalmente Alien e Virna Lisi

Link para download dos MP3s das músicas: 2shared