Entre os vários gêneros de filmes produzidos nos Estados Unidos há um que é conhecido, de forma pejorativa, como “doença da semana”. É um tipo de filme que, normalmente, é produzido para a televisão, sem muito orçamento, contendo a história de uma pessoa que luta contra uma doença qualquer, ou que se recupera de um acidente. Muitos desses filmes são descartáveis, na melhor das hipóteses, não apresentando nada que leve alguém a assistir tal filme a não ser o desejo de ver uma história de superação. São raros os filmes do tipo que se destacam e saiam da raia comum da mediocridade.
E Temple Grandin, filme de 2010 produzido pela HBO Films para o canal HBO, é um desses raros filmes. Conta a história de Grandin, uma americana que aos 4 anos de idade é diagnosticada como autista, acompanhando seu desenvolvimento da infância até a vida adulta, quando consegue se formar em psicologia. Mostra ainda a sua luta contra o preconceito que enfrentou no início do seu trabalho como zootécnica, quando desenvolveu os primeiros currais circulares que respeitam o nome de pensar do gado e que, por conta disso, tornam a lide menos traumática para o animal. E assim, “abrindo uma porta de cada vez” (como costumava dizer o professor de ciências de Grandin), ela vai conquistando o seu espaço e ajudando a desmistificar a sua doença junto à sociedade.
E o que faz com que esse filme fuja do sentimentalismo e se destaque? A resposta está em Claire Danes, que até esse filme era mais conhecida por fazer o papel de Julieta na modernização Romeo + Juliet (1996), onde contracenou com Leonardo DiCaprio. Sua interpretação de Grandin é primorosa, no mesmo nível do Raymond Babbitt interpretado por Dustin Hoffman em Rain Man (1988), e recebeu merecidamente vários prêmios, incluindo o Emmy e o Globo de Ouro de melhor atriz. Ela consegue encarar de forma convincente um personagem cheio de tiques e maneirismos e que, nas mãos de um artista menos capacitado, poderia ser retratado de forma caricata. Um excelente trabalho, que merece ser conferido.