Em 1990 trabalhei durante alguns meses numa empresa de calçados, lá em Parobé. Lembro-me bem até hoje do impacto negativo que teve junto aos meus superiores a resposta que dei à pergunta “O que você está achando do seu trabalho?”:
– Divertido!
Meu, a cara dos meus chefes foi algo… Não que eu não levasse o meu trabalho a sério: o que acontecia é que, mesmo sendo uma coisa séria (operar um sistema que rodava num IBM 4381 que gerava, entre outras coisas, o relatório de tarefas a serem desempenhadas na produção), eu achava a coisa toda intelectualmente estimulante. Tanto o era que foi ali que aprendi a ler em inglês, pegando por iniciativa própria os manuais do sistema e um dicionário de bolso e indo atrás do que dava para fazer com cada comando. Isso tornava o meu trabalho uma coisa agradável, por mais rotineira e burocrática que fosse em alguns momentos. Mas pelo jeito não foi isso que os meus chefes entenderam: na mesma hora eles me censuraram, dizendo que o meu trabalho era uma coisa séria, que não era para ser uma coisa “divertida”. Aliás, era de “bom tom” mudar meu comportamento para que as pessoas não percebessem que eu estava ali me divertindo, afinal a gente estava numa fábrica de sapatos, onde haviam pessoas trabalhando nas linhas de produção, e pegava muito mal esse pessoal ver o pessoal da administração sorrindo prá cá e prá lá, que eles iam pensar que a gente não fazia nada o dia inteiro, que levava uma vida boa, etc, etc, etc… Resumindo: uma bela de uma mijada. Assim sendo, engoli em seco, e passei a fechar a cara. É, quando a gente está no primeiro emprego se sujeita a esse tipo de coisa. De qualquer forma não fiquei muito tempo lá, já que dei uma pisada pequena de bola uma hora (prá variar) e usaram isso como desculpa para me tirar da empresa. O pessoal de lá não imagina o quanto sou agradecido até hoje por isso ter acontecido.
Mas por que estou falando disso tudo? Por que acabo de ler Só por prazer: Linux, os bastidores da sua criação, de Linus Torlvalds (sim, o próprio) e David Diamond. Nesse livro, além de contar como se deu o desenvolvimento do SO Linux, Torvalds mostra a sua visão de mundo, e nele é interessante ver o papel que o entretenimento tem:
(…) há três coisas que dão sentido à vida. Elas são os fatores de motivação para tudo na vida – para tudo o que você faz ou qualquer ser vivo faz: a primeira é a sobrevivência, a segunda é a ordem social e a terceira é o entretenimento. Portanto, de certa forma, isso quer dizer que o sentido da vida é alcançar o terceiro estágio. E uma vez que você o atinge, está feito.
Sinceramente? Espero que logo logo esse livro entre na lista de mais vendidos da revista Exame. Ia ser interessante ver empresários reverem algumas coisas, tais como o fato de um empregado ter prazer no seu trabalho não quer dizer que ele não o leve a sério. Aliás, é bem capaz que ele leve mais a sério que outras pessoas justamente por que sente um prazer enorme em fazer aquilo. E quem quer perder aquilo que lhe dá prazer? Assim, quando fui demitido fiquei mais envergonhado do que triste. Quando meu pai disse “Calma que isso é só um emprego” eu nem dei mais (tanta) bola assim prá tristeza, só ficando com o ego ferido durante um bom tempo. Mas triste? Nem tanto. Afinal, se eu não podia sentir prazer no local onde trabalhava, o melhor mesmo era nem ficar por lá mesmo.
Mas mudando um pouco de assunto, pelo jeito a Marina não aguentou ficar muito tempo afastada do mundo blog e resolveu voltar 🙂 E dessa vez sem comentários, para não ter que ficar aguentando chatos. E falando mais um pouco em blogs, no Jogo da Verdade a Viviane perguntou Como foi (ou é) o melhor relacionamento afetivo que já tiveram? Tipo, o que o torna o melhor dos que já tiveram, que características? Não resisti e deixei a minha resposta lá. Não coloquei o nome da Márcia lá, mas nem precisa, né? É óbvio que estou falando dela 🙂