O paraíso

Sim, o paraíso existe, e se chama Islândia:

Não há propaganda nenhuma nas estradas. O que reforça o vazio, o inusitado da paisagem islandesa. De desolação, pois se associa (erradamente) a ausência do humano à tristeza ou à esterilidade.

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No inverno, não há turistas na Lagoa Branca. Não há, na verdade, ninguém. De modo que o vestiário, imenso e limpíssimo, fica a seu dispor. Você toma banho de chuveiro (nu e de sabonete, conforme as regras), bota o calção, sai, quase congela, e entra na Lagoa quente, com sua água espessa, azul-leitosa.

Quanto mais você se aproxima dos rolos de fumaça, mais quente a água fica (“Papa, je suis en train de brûler mes fesses!”), mas logo se acha o ponto ideal. E não se quer mais sair desse ambiente irreal.

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A televisão islandesa começa suas transmissões às seis da tarde e as encerra às dez da noite. O telejornal vai ao ar às sete horas e dura sessenta minutos. Num restaurante de beira de estreada, jantávamos olhando a televisão, junto com uns islandeses. O telejornal mostra todas as noites alguns trechos de discursos no parlamento. Um deputado falou algo, o islandês ao lado me olhou, bufou e balançou a cabeça: o gesto universal de reprovação aos políticos, imediatamente compreendido.

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Metade das islandesas parece com a cantora Bjork, que parece ter feito grande sucesso no Carnaval baiano. A outra metade é loira e de olhos azuis. A altura média delas é 1m90.

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Uma das praias, de basalto, era de areia negra, mais negra que a asa da graúna.

A Islândia é ao contrário.

Visitá-la no inverno é ter acesso ao avesso, é ver a vida ao inverso: neve, lava, nada.

Uma terra intocada, fria, a 3 horas de vôo de Paris. O útero abandonado numa lagoa branca. Televisores se calando cedo, deixando espaço para o cérebro respirar no bares (o que talvez explique porque tenha tanta música boa sendo feito lá). E eu acho a Björk linda, assim como loiras de olhos azuis com 1m90, não me importando nem um pouco se se vestem mal.

Quantas horas do Brasil? Quantos reais? Ou dolares? Ou euros? Quanto? Não posso morrer sem ter colocado meus pés lá um dia. Lá e na Patagônia.

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