Bahia, setembro de 1968

É um prazer enorme ir no CMI Brasil e acompanhar o que está acontecendo na Bahia. Para quem estava como eu boiando sobre o assunto até hoje de manhã é o seguinte: quinta-feira passada os estudantes baianos resolveram sair as ruas para protestar contra o aumento das passagens de ônibus. São milhares de estudantes parando o trânsito da cidade, sem fazer uso da violência (já foram registrados casos de uso da violência, mas foi por parte dos estudantes que entraram em confronto com a polícia), apenas se valendo do fato de serem uma multidão, tornando a situação um caos. O detalhe realmente bom dessa história toda é que é uma ação espontânea: os estudantes entrevistados (assim como os que deixam seus depoimentos no CMI) negam bandeiras partidárias, representação da UNE, líderes. A única coisa que há é o desejo de ver as passagens diminuídas (ok, deixem-me bancar um pouco o ingênuo aqui: é óbvio que há garotos ali que estão no meio mais pela festa e pela baderna do que por causa do preço da passagem, mas mesmo isso não torna o protesto menos importante). Óbvio que os grandes meios de comunicação baianos estão chamando os estudantes de baderneiros, esquecendo que os tais baderneiros são justamente os filhos dos leitores/ouvintes de tais meios, numa atitude que nada mais é do que atirar nos próprios pés, pois mostra que é um veículo que está do lado dos poderosos, não da população. Para saber mais dê uma olhada nessas matérias do CMI:

E há mais um detalhe interessante que fiquei sabendo por listas de discussão: boa parte das ações são feitas pela gurizada usando telefones celulares. Tipo os garotos de diferentes escolas se comunicam entre si usando SMS, definindo onde vão se encontrar, além do que outros garotos vigiam algumas quadras adiante para ver se a polícia está chegando e, se for o caso, já avisam os amigos que estão na multidão. O aviso é repassado e a multidão se dispersa, se reunindo em outro local, congestionando ali o trânsito. Isso sim é flashmob, o resto é bobagem! Afinal flashmob é para ser uma intervenção dadaísta no cotidiano, e ações desse tipo são tão dadaísta quanto as ações surreais por trás da idéia. Isso é tão genial que a coisa toda já está se alastrando para outras cidades.

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