Estava agora mesmo conversando com o Maurício Renner pelo MSN, falando sobre o fato da Mandriva anunciar que não faria nenhum acordo com a Microsoft quando lá pelas tantas caimos no assunto Computador Para Todos. Foi aí que eu comentei com ele uma idéia que eu e o Fernando Massen já trocamos a muito tempo atrás: a criação de uma espécie de LinuxBras.
Caaaaaaaalma, deixe-me explicar…
O programa Computador para Todos (CpT daqui em diante) tem uma série enorme de méritos. Ele como programa tem seus problemas, mas o caso é que graças a ele os vendedores começaram a vender máquinas que não são topo de linha para camadas maiores da população. Eu vejo o programa como o Plano Real: o que foi que havia na época da hiper inflação? Havia uma cultura de que sempre se tinha que aumentar os preços, se perdendo totalmente as referências. E o que fez o governo? Veio com a UFIR e depois mudou a moeda, mostrando que muito da inflação que havia era cultural. E o CpT fez? Mostrou que há uma camada da população que quer ter um computador mas que não precisa de uma super máquina. Que quer editar um texto, navegar pela Internet e por aí vai. Antes esse cidadão geralmente fazia o seguinte: abria o caderno de classificados e comprava um computador de segunda mão, sem assistência técnica, rezando para que o bicho nunca desse problema. E assim era até aparecer o CpT, que pode não ser um grande sucesso de vendas, mas que fez com que várias lojas (principalmente cadeias de lojas) passassem a vender máquinas mais pé no chão. Algo super comum nos Estados Unidos, mas que não se refletia por aqui.
Mas enfim, nesse ponto (quebra de paradigma) o CpT foi um sucesso, mas porque o programa em si não o é? Bem, na minha opinião, um dos grandes erros do programa foi o governo ter deixado que os computadores saissem cada qual com uma distribuição escolhida pelo fabricante. Por exemplo, os computadores Itautec que participam do programa saem de fábrica com uma distribuição feita pela própria Itautec, o Librix. Já outros fabricantes usam outras distribuições, o que faz com que os usuários do programa vivam uma verdadeira guerra de distribuições.
É nesse ponto que eu acredito que deveria haver uma espécie de LinuxBras. Não, não seria uma estatal tipo Petrobrás, mas sim um consórcio das empresas participantes mais governo. Sei lá como se organizaria isso, mas o caso é que essa “entidade” seria responsável por criar ou adaptar uma distribuição aberta para uma que outra customização (página inicial no Firefox, essas coisas), com um checklist rigoroso no caso de drivers e dispositivos. Afinal o que mais se vê pelas listas de discussão é gente reclamando de que tem computador aí sendo vendido com linux não configurado direito, onde o usuário compra, tenta se conectar e o modem da máquina não responde. Quando se vai ver dentro da máquina o que tem? Pois é, um winmodem…
Pois é, e porque acontece isso? Porque tanto amadorismo? Bem, volta e meia aparecem boatos de computadores sendo vendidos pelo programa com o vendedor oferecendo o Windows por fora, di grátis. Ou seja: o computador vendido só tá com o Linux para se obter os incentivos fiscais do programa, para justamente ter uma vantagem competitiva. É isso ou, no primeiro problema que dá na máquina, a loja recomendar que se instale o Windows sobre o Linux.
E isso acontece porque não saiu do governo uma especificação mais rigorosa do SO. Para agradar a “comunidade”, que fica brigando entre si discutindo qual é a melhor distribuição, se essa é mais livre do que aquela, resultou que foi decidido que os computadores deveriam ter um sistema operacional livre rodando um editor de textos, um navegador web, um etc, etc, etc. Não se deu nenhum nome aos bois aí, simplesmente se deixou a coisa extremamente vaga. Houve muita preocupação com os produtores de distribuições menores, deixando de lado justamente o elo mais importante dessa corrente, que é o cliente.
E como fazer para resolver isso? Como fazer para o programa ser o sucesso que merecia ser? É aí que se entraria o papel da tal LinuxBras, que faria uma distribuição de forma séria. Quem faria essa distribuição? Ora, aí que entra a concorrência: primeiramente que se fizesse uma especificação do que o sistema deveria ter (na verdade já há essa especificaçã0) e a partir dela a distribuidora que apresentassem a melhor implementação seria a escolhida. E os computadores comercializados deveriam ter essa distribuição instalada, com um checklist de coisas óbvias do tipo “Modem está conectando?” sendo seguido para a obtenção do selo do programa, e, por consequência, de incentivos fiscais.
Ok, podem dizer “mas que idéia de jerico!”.